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20/05/2009

Mercenária da Morte


Capítulo I – Meias Verdades.

Alice era o tipo de garota que permanecia afastada e evitava qualquer tipo de contato com qualquer tipo de pessoa. Sempre foi muito quieta e mesmo quando pequena não fazia questão alguma que conversassem com ela. A única pessoa a quem ouvia era a mãe unicamente á noite, quando a mesma lhe lia histórias, algo que já não faziam havia muito tempo.
Apesar de Alice ter um jeito muito diferente, era uma garota bonita. Não ligava para usar roupas coloridas, mas pouco se importava se não estivesse usando preto. Sua grande aventura começou durante uma tarde qualquer de um sábado nublado.
Estava, como de costume, frente ao computador, passando a limpo mais um de seus trabalhos escolares quando começara a chover.
Alice levantou-se e foi fechar a janela para que não caísse água em seu colchão. Mais alguns parágrafos digitados e ela começou a ficar com sono. Aos poucos seus olhos foram ganhando peso e sua vontade de se deitar ia aumentando. Logo, desligou a máquina e deitou-se.
Foi naquele momento que sua aventura desencadeou. Apesar dela não ter idéia alguma do que lhe aconteceria, tudo começava de seu primeiro pesadelo.
Nele, ela acordara assustada com um barulhento trovão. Estava tudo escuro, apenas ouvia-se o barulho da chuva. O brilho repentino e ligeiro de um raio iluminou seu quarto por pouco tempo, mas tempo o suficiente para que ela agarrasse o celular de sua bolsa.
Com a leve luz emitida pelo aparelho, ela guiou-se com esforço até a cozinha, o maior cômodo da casa.
- Mãe? Nenhum som.
- Pai?
Nada além de outro trovão barulhento.
De repente, Alice ouve um estanho barulho vindo da sala, para onde ela segue lenta e cuidadosamente. Tropeçou com uma cadeira que se encontrava no meio da cozinha, caindo no chão com um estalo muito alto.
Sentiu vibrações no chão, como se alguém muito pesado se movesse em sua direção. Com o coração disparado, mas sem expressão alguma em seu rosto ela iluminou o ser que se encontrava á sua frente.
Gritou. Sentiu suor escorrer por entre sua testa e descer até a bochecha. Olhou á sua volta e percebeu que estava em sua cama. Tudo estava escuro.
- Mãe? – a garota chamou.
- Sim querida? – ouviu ao longe.
- Onde você está? – perguntou Alice, amedrontada por seu pesadelo.
- Em meu quarto... Por quê?
- Por nada – disfarçou.
A verdade era que, pela primeira vez estava com medo, mas aos poucos, apesar de forçar sua memória, foi esquecendo o que acabara de sonhar.
Sua nova única ligação com a mãe surgiu dias depois, quando, sem dormir, Alice colocou um filme para que assistisse até o sono chegar. Não sabia ela que a mãe também não conseguia dormir, portanto sentiu-se surpresa ao vê-la parada á sua porta.
- Posso? – Agatha, mãe dela, perguntou apontando a cabeça para a cama, onde após um "sim" respondido pela filha, se sentou.
Assistiam ao filme ambas com a cabeça apoiada sobre o ombro direito. Pode-se até dizer que piscavam quase ao mesmo tempo, afinal eram parentes e viveram toda a vida de Alice juntas.
Naquele momento, enquanto uma das mocinhas do filme berrava de susto, secretamente, ao mesmo tempo, lembravam-se de quando foram juntas ao parque de diversões. Foi o dia em que Alice, mesmo ainda pequena, pediu pela primeira vez á mãe para que pudesse ir á gigantesca montanha russa.
- Você é muito pequena para entrar nesse tipo de brinquedo! – a mãe respondera naquele dia.
Logo após o pedido, elas entraram em um simulador de montanha russa. A pequena Alice gritava, berrava e, mesmo não admitindo, escorreram lágrimas por seu rosto. Ao perceber isso, Agatha passou a mão por sua cabeça e falou:
- É de mentirinha.
No ano seguinte o pai foi junto e deixou a garotinha ir á montanha russa. Ao descer, pequena Alice vomitou, assim que deu meia dúzia de passos para longe do brinquedo.
Ano seguinte, apesar de não muito mais velha, ao descer do brinquedo, já desmontava a mesma frieza com qual o fazia hoje em dia. Naquele ano, já não era pequena Alice, já havia criado sua personalidade de rainha do bizarro. Ao descer do brinquedo naquele ano, já sabia que o parque assegurava sua segurança. Não tinha mais graça. E mesmo que o parque não fosse seguro, ela nem ligava.
Assistir á filmes de horror foi uma experiência mais ou menos parecida. Mesmo não mais sentindo medo algum, ela ainda assistia, pois era o que havia de mais próximo ao que gostaria de sentir.
A mãe também pouco se importava com os filmes de terror. Até gostava, mas não se importava de modo algum. Ficou feliz que isso, depois dos livros que lera na infância da filha, as unisse novamente.
Sentiram até mesmo certa paz ao ver o sangue que espirrara na tela da televisão, e sem que percebessem uma á outra, estavam sorrindo.
Não pararam mais, a partir daquele momento. Sempre estavam locando filmes, em silêncio, para que pudessem manter aquela ligação. Além disso, Alice precisava dos filmes, pois não conseguia dormir.
Aquele pesadelo não saia de sua cabeça. Fora muito real para ser apenas uma seqüência de imagens imaginadas por ela durante o sono.
Porém, não havia como ficar noites e mais noites sem dormir e, poucos dias depois, ela já quase dormia, com os olhos pesados. Mal sabia que a criatura de seus sonhos já estava cansada de esperar a garota dormir e que faria de tudo para encontrá-la em sono. Até mesmo atravessaria de dia.
E foi em uma monótona e fria manhã, tipicamente escolar, que Alice acabou se distraindo. O professor falava sem parar, com uma voz doce, suave, que aos poucos foi ficando indistinguível aos ouvidos da garota, até que adormecera, em meio aos colegas de estudo.
Acordou com a sala completamente vazia e escura. O estranho ser alto e encapado já a aguardava em frente ao quadro negro.
- Quem? – ela conseguiu gaguejar com muito esforço.
- Eu, minha querida, sou um ser que nunca dorme. Eu tenho o controle sobre muitas coisas. Mas não posso controlar outras muitas coisas, como o livre arbítrio.
As palavras não faziam sentido algum á Alice, que se levantou e caminhou ao fundo da sala, para afastar-se da criatura.
- Mas... O que é você?
- Eu sou...
Alice ouviu um grito ensurdecedor em seu ouvido. Acordou agitada com Jim apoiado á sua carteira, gritando, para zombá-la. Ela gritou de volta.
- VOCÊ ESTÁ LOUCO? VOCÊ SABE O QUE FEZ? SABE SE EU TENHO ALGUM PROBLEMA DE OUVIDO? SABE O QUE SOU CAPAZ DE FAZER? – berrou.
Poucos notaram, assustados com a reação de Alice, mas a urina de Jim formara uma possa sobre seus sapatos.
Alice podia não admitir, mas gostava muito que os outros sentissem medo dela. Gostava muito do silêncio, da paz. Não apenas por ser uma garota diferente.
No ano em que ela deixou de ser a pequena Alice, no ano seguinte do pai deixá-la ir á montanha russa, quando se tornou uma pessoa fria, ocorreu algo que, até o presente momento, a garota ignorava.
Tanto ela ignorava que já quase nem se lembrava, mas quando gritara dentro do simulador da montanha russa, quando vomitara após descer a de verdade, não estava sozinha com os pais. Havia mais alguém. Alice simplesmente não conseguia, não queria de maneira alguma se lembrar.
Mas ela querer ou não, não mudava o fato de sua irmã estar em todos aqueles momentos, gritando junto á ela, acariciando seus cabelos, ouvindo histórias antes de dormir uma ao lado da outra.
Alice se transformou na garota “tanto faz” após a morte da irmãzinha. Aprendeu, naquele dia negro, no hospital, com lágrimas nos olhos, que algum dia todos morrem e que Sarah estava em um lugar muito melhor.
Por isso, após aquele momento, a vida perdeu o sentido aos olhos de Alice, a qual achou que não valia a pena viver se um dia morreria como qualquer barata morre.
- O pior é que baratas vivem muito mais. – pensou alto em meio ao ônibus escolar.
Todos a olharam receosos. Ela pouco se importou, como de costume e virou-se para a janela.
As balançadas que o ônibus dava acabara por despertar mais uma vez sono na garota, que lutava para que ficasse acordada até pelo menos chegar até sua casa, onde, para ela, seria possível enfrentar seus inimigos em território conhecido.
Alice não podia imaginar que aquele território era mais conhecido por seus inimigos que por ela mesma. Seus inimigos sabiam o que havia escondido no porão. Ela não.
Não demorou muito á chegar. Desceu do ônibus e andou firmemente até sua casa. Foi cambaleante ao quarto, onde simplesmente deitou-se e adormeceu.
A casa novamente estava vazia. Ela acordou sozinha em meio á escuridão novamente. Percebeu logo que estava acompanhada quando olhou para o canto mais escuro do quarto e viu que lá estava o ser que a rodeava nos últimos tempos.
- O que é você? – perguntou grosseira.
- Vejo que você quer continuar essa conversa exatamente de onde paramos hein?
- Por que não tira esse capuz ridículo e me encara? – gritou, ainda firme.
O ser riu. Sua voz começou a se transformar e de grossa e ameaçadora passou a ser uma voz delicada e feminina.
- Eu sou a morte.
Alice congelou, perdeu a fala. Aos poucos foi se recuperando e após certo tempo conseguiu gaguejar:
- O que você quer?
- Seus serviços.
- Como?
A morte caminhou até ela, alta e exuberante, com a ponta longa de seu enorme capuz balançando ao ritimo de seu andar.
- Eu tenho controle de muitas coisas, como disse á você. Posso matar qualquer um a qualquer instante. Animais, plantas, homens, mulheres, irmãs – o ser pôde perceber que Alice ficou mais assustada quando citou a irmã. – Porém, existem certos seres do universo aos quais eu não posso estender meu manto.
A garota estava confusa. Suas pernas estavam tão bambas que acabou se sentando na beirada da cama.
- Que criaturas seriam essas? – falou, ao perceber que não seria machucada.
- Duendes, Transformadores, Demônios, Espíritos, Esfinges, Vampiros, lobisomens – começou. – Existem muitos! Não vou citar todos!
- Mas o que você quer de mim? – Alice perguntou, já temendo a resposta.
- O criador, seja ele ou não esse Deus cultuado pelos homens, como dá para perceber, gosta que em tudo, haja emoções humanas. Eu tenho emoções. Tenho medo, vergonha, receio, assim como você e muitos outros. Fui posta aqui para poder gerar um equilíbrio. Mato, pode até parecer que sou maligna, mas coloco isso tudo para funcionar.
A garota começou a ficar vermelha. Como pode a morte estar á sua frente dizendo que gera equilíbrio se a mesma retirara a vida de sua irmã, uma inocente que mal descobrira o mundo.
- Mal descobrira o que? – a criatura falou como se pudesse ouvir os pensamentos de Alice. – Você está vivinha aqui e nem quer saber de descobrir o mundo! Por que está pensando em reclamar.
É. A morte podia muito bem ouvir pensamentos.
- Foi injusto você tirar a vida dela! – ela reclamou.
- É. Então eu deveria apenas tirar a vida das pessoas más não é? Iria ser muito equilibrado, não acha?
Alice estava ficando mais corada ainda, parecia que sua face iria explodir. Explodiu. Duas lágrimas escorreram de seus olhos e desceram ao seu queixo, onde a garota as enxugou com a palma da mão direita.
- Mas por que ela? – chorou.
A criatura sentou-se ao lado dela e estendeu seu enorme braço até que sua fria mão tocasse o ombro de Alice.
- E se eu dissesse que não levei sua irmãzinha.
A garota olhou para a morte com os dois olhos arregalados, chocada com o que acabara de ouvir.
- O que? – perguntou.
- E se eu dissesse... – a morte fora interrompida.
- Mas... Eu vi ela! Eu vi ela deitada morta na cama do hospital! EU VI! – gritou.
Alice não percebera, mas a morte estava ficando irritada.
- Eu sei o que você acha que viu! – a morte respondeu grosseira.
- Eu vi! Eu não acho que vi! Eu vi! – continuou gritando.
- TA BOM! NÃO PRECISA GRITAR! EU JÁ ENTENDI O QUE VOCÊ VIU!
- Por que você está me contando isso?
- Para que você pare de ficar fazendo o drama da menina que já não liga mais para viver! – o ser encapuzado falou.
A garota ainda tentava digerir as informações. Levantou-se da cama e ficou de pé, raciocinando.
- Você não vai mais ver sua irmã.
- Por quê?
- Ela está diferente. Está trabalhando para mim também. Mesmo que a visse, não reconheceria – a morte explicou, delicada. – Esqueça sobre sua irmã. Ela está morta para você, foi por isso que eu fingi leva-la. Só que não imaginei que você fosse ficar tão chata e dramática. Levei sua irmã para que não conseguissem fazer chantagem com o nome dela á você.
Alice olhou para a morte. Respirou fundo e fez sua última pergunta antes de acordar.
- Então você quer mesmo que eu faça esses serviços á você?
A estranha criatura balançou a cabeça positivamente.
Um barulho enorme inundou o quarto onde estavam. Tudo começou a ficar branco. A garota colocou as mãos sobre os ouvidos para tentar abafar o som.
Acordou.
Andou até a janela e viu que já estava quase anoitecendo, o céu estava avermelhado com o pôr do sol.
Chorou. Não queria acreditar que tivera aquele sonho, assim como não quis se lembrar que sua irmã morrera.
- PROVE! – gritou ao nada, olhando para o céu.
De repente um pássaro despencou. Alice acompanhou sua descida com os olhos até que se espatifou no chão, do lado de fora do quarto. Estava morto.
Ela levou as duas mãos á boca para abafar um grito. Não conseguia respirar direito. Seria verdade mesmo aquele sonho? Sim. Ela não enxergava, mas a morte estava ao seu lado, contemplando a mesma paisagem pela janela.
- Eu não acredito... – deixou-se falar.
A criatura não estava brava com Alice por não querer acreditar. Entendia o que se passava na cabeça da garota sem nem precisar leu seus pensamentos.
Pode parecer impossível, mas a morte estava chorando. As lágrimas pingavam no chão enquanto a criatura fazia um barulho choroso muito parecido o de cachorros quando tristes.
Uma grossa chuva começou a descer do céu no momento que as lágrimas do ser tocaram o chão.
>>>Continua<<<
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Bom pessoas que acompanham meu blog... Esse é um conto que iniciei a muito tempo atrás... estou postando o primeiro capítulo da saga de Alice... Espero que gostem, pois assim que der, vou continuando o texto... a imagem da capa foi eu quem fiz na aula de artes de hoje, espero que gostem ^^