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01/10/2008

Meu primeiro conto de terror... quem nem é tão terror assim... hehe

Esse foi o primeiro conto que escrevi de terror e que consegui terminar [tem uma lista enorme de interminados...] Não podia faltar no blog... espero que gostem:

O jogo da morte: Você aceita o desafio?

Alice não era uma garota, já era mais que adulta, embora tivesse ainda vinte anos de idade. Ela era certa por seu amadurecimento, pois perdera a maior parte de sua adolescência com o fato de ter tido um filho. Era uma mulher bonita, de longos cabelos dourados, olhos azuis, boca avermelhada, nariz levemente empinado e acima de tudo, um sorriso lindo e grande.Seu pai, Roger, era muito misterioso e fechado. Ela o estranhara várias vezes. Sua mãe, Anna, morria de medo dele e os dois estavam toda semana prontos para a separação, mas nada ocorrera.
Seu filho, Alex, acabara de completar cinco anos de idade e ao contrário da mãe, era moreno de olhos escuros. Ambos moravam em um grande sobrado perto do lago de Silent Hill, qual Alice conseguira comprar com seu trabalho e uma grande mesada que ganha dos pais. Ela conseguiu um emprego no jornal de Silent Hill: City news.
Eram de lá seu namorado, Henrique, e sua melhor amiga, Camila. Alice e Henrique eram muito parecidos em gostos, opiniões e trejeitos. Ele era um homem alto e forte, indo três vezes por semana na academia da cidade. Camila era uma mulher muito bonita, morena, de olhos castanhos, boca carnuda e andava sempre de trança. Ela estava junto de Alice desde o colégio, qual não deixou à amiga desistir por causa da criança. Ambas se mudaram juntas para Silent Hill.
Tudo realmente começou em uma monótona e cinzenta manhã de domingo, onde a chuva caia sem parar para fora do sobrado enquanto Alice cuidava de Alex, que parecia estar com um leve resfriado. Então toca a campainha anunciando a chegada de Camila, fazendo Alice correu atender a porta com um cobertor nas mãos.
- Entre!- Alice disse num tom de afobação.
Camila, que cobria a cabeça com uma jaqueta, entrou rapidamente.
- O cobertor é para o garoto?- perguntou.
- É... Ele parece estar resfriado. Espera só eu cobrir ele e eu desço aqui para a gente assistir o filme. Se quiser, faça pipoca no microondas.
Alice indicou o sofá, qual Camila deitou sem hesitar enquanto Alice subia as escadarias para os quartos. Camila pôs-se a fazer tranças enquanto sua amiga medicava Alex.

Logo que Alice começou a descer as escadas Henrique buzinou do carro para que ela abrisse a porta. Então, apressou o passo nas escadas e abriu a porta.
- Nossa! Você parece exausta Alice! - ele comentou lhe entregando lindas rosas amarelas.
- Nem fale... Alex pegou resfriado. - ela disse enquanto ambos sentavam no sofá.
Camila abriu um chiclete e ofereceu aos outros, que recusaram balançando a cabeça negativamente.
- Você vai assistir ao filme com a gente? - Camila perguntou.
- Claro! - ele sorriu.
Alice colocou as flores em cima da mesa-de-centro e foi para a cozinha.
- Vou fazer pipoca. O filme é um daqueles de romance... Será que você vai gostar? - ela disse para Henrique dando-lhe um sorriso de quem dizia para que assistisse. Ele concordou com um gesto dos braços e da cabeça.
Fez as pipocas sossegadamente, mas sua maior surpresa foi quando voltou com uma tigela cheia de pipoca, Alice assistiu á cena mais aterrorizante de sua vida:
Lá estavam Henrique e Camila espremidos em um canto do sofá enquanto passavam cenas muito bizarras na televisão. Um cheiro horrível tomou conta da sala. Ela deixou cair a tigela, que fez um barulho ignorado por todos.
- O que está havendo aqui? - Alice gritou histérica.
Ninguém notou que Alex estava naquela sala.
As imagens eram horríveis. Parecia um culto satânico, onde as pessoas faziam orgia em torno de uma criança toda marcada com faca e sem olhos. Bem ao longe observava um velho todo tatuado com tinta vermelha. As paredes eram cobertas por partes de corpos humanos e sangue.
Alice olhou para trás e viu Alex desmaiado no chão. Ela correu para ele e começou a acariciar seus cabelos. - Não olhe meu bem. - repetia. Alice notou que a TV estava fora da tomada e então tudo ficou escuro.Tremendo de medo e do frio que tomou toda a casa, Camila foi até a gaveta do móvel onde estava a televisão e de lá retirou uma lanterna, qual iluminou a expressão de susto no rosto de cada um na sala.- Eu quero ir embora!- Henrique cochichou quando viu em cima da mesa-de-centro, ao invés de rosas, uma caixa verde. - Devemos abrir a caixa?- Camila perguntou para Alice que correu tentar abrir a porta... Estava trancada. - Não temos outra opção! - ela respondeu tomando Alex no coloCom as mãos tremendo, Alice deitou Alex, desmaiado, no sofá e abriu a caixa, tirando um pesado tabuleiro redondo de pedra e uma outra caixa menor, onde havia um papel, um dado e quatro peças de um jogo.- Eu vou ler o papel - Alice tremeu. - Passe a lanterna Camila!Camila entregou a lanterna para Alice, que começou a ler:

“Os dados devem rolar... Os jogadores devem se mover. E entao ir até o centro... Para a morte nao vir buscar. Com muita sorte, Ira sobreviverCom muito azar, Nos vamos matar você!”.“Chegando primeiro... Vivo esta! Chegando segundo... Esta sem a mão direita! Chegando a terceiro... Cabeças vão rolar. Nem tente nos enganar!”“Você nao pode trapacear! Mas o que conta é a inconsciência... A inocência!”“A faca é o avanço. A cobra é a punição. O dente é a morte. O sino o fará dormir. O sangue o despertara. E o coração o tabuleiro decide.”“Você aceita o desafio?”.

É uma brincadeira?- Camila choramingou. O dado tinha seis lados e seis figuras:*Coração; *Faca; *Dente; *Cobra; *Sino, *Sangue.

Então Alice olha preocupada para Alex e diz:
- Mas são quatro peças. Alex está jogando?
Camila balançou positivamente a cabeça e disse:
- Acorde ele que parece que o negócio é sério!
Então Alice ajoelhou-se para Alex e sussurrou maternamente em seu ouvido:
- Acorda meu anjo.
Ele esfregou os olhos e disse
- O que aconteceu?
- Nós vamos jogar um joguinho, tudo bem querido? A mamãe te ensina a jogar, tudo bem? - Alice respondeu calmamente.
Todos sentaram em torno da mesa-de-centro, então Camila perguntou:- Quem começa?
- Eu - respondeu Henrique colocando as peças no lugar e jogando o dado.
Ele parou em cima da mesa fazendo um barulho sinistro. A figura era a de uma cobra.
-Droga! Isso é a punição, não é?Então começou um enorme barulho da cozinha. Todos se levantaram. Alice agarrou a mão de Alex e Henrique apanhou a lanterna. Todos começaram a andar em direção ao barulho.
Ao chegar à cozinha, um dos móveis chocalhava-se e estremecia: a geladeira. Quando Henrique iluminou o móvel, ele parou. Então a porta da geladeira começou a abrir vagarosamente.
Um odor horrível tomou o lugar. A lâmpada estourou. A porta se abria muito devagar, Alice só conseguia ouvir as batidas do próprio coração.
Então um corpo caiu da geladeira e se espatifou no chão, fazendo um barulho bem parecido com o que o dado produziu ao bater na mesa.
- Será que está vivo?- Camila perguntou se agarrando ao braço de Henrique.
- Eu vou até lá ver - ele sussurrou.
Alice fez sinal negativo com a cabeça. Camila se soltou dele, que caminhou vagarosamente até a criatura deitada no chão.
Quando se aproximou para observar, a criatura se levantou rapidamente e pulou no pescoço de Henrique. Ele deixou cair a lanterna, que se apagou num estalo. A criatura mordeu sua orelha, arrancando-a do rapaz.
- AAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH! - ele gritou empurrando a criatura de volta para a geladeira.
O ser tinha corpo de criança, mas sua cabeça era desproporcionalmente maior. Sua pele estava cheia de bolhas e verrugas por todo corpo. Não tinha nariz nem dentes, de sua boca escorria um líquido amarelo que parecia vômito. No lugar de olhos da criatura havia dois enormes buracos, de onde saiam bigatos e baratas.
- Corre!- Alex gritou. Mas Henrique não correu e sim, apanhou uma faca que lá havia e a encravou no peito da criatura, que morreu fazendo um barulho que parecia uma canção tocada ao contrário.
Com uma mão friccionando o ouvido ele apanhou cinco facas de cortar carne e todos voltaram para a sala. Cada um sentou no mesmo lugar que estava antes.
- Você está bem?- Alice perguntou enquanto apanhava um pedaço de pano para cobrir o ferimento.
- Não. - Ele resmungou.
Alice, preocupada, olhou para Camila e disse:
- Jogue, deixaremos Alex por ultimo.
Então Camila pegou o dado e começou a chorar, o deixou cair em cima da mesa, fazendo um barulho de uma faca caindo. Ela não queria abrir os olhos, os manteve fechados até que Alice exclamou:
- Sua peça está andando!
Camila abriu os olhos e felizmente viu que a figura do dado era a de uma faca.
- Mas... Se entrar em desequilíbrio? - Alice indagou.
- Como assim? - questionou Alex com uma voz calma e inocente.
- Assim... Se você não estiver dormindo e o dado dizer que você deve despertar... - Alice sussurrou.
Então todos se entreolharam.
- Vou jogar - Alice lembrou. - Se algo me acontecer, vocês devem cuidar de Alex ok?
Camila e Henrique concordaram. Alice pegou o dado e, sem demoras, o jogou.
Então o dado fez um estalo bem parecido com o da lanterna e a figura que apareceu era a de um coração. Então Alice sentiu seus pés molhados.
- A água do banheiro está vazando?- ela exclamou.
Alex agarrou a mão de Henrique. Alice se levantou vagarosamente pensando: “Não poderia ser uma faca?”.
Eles começaram a subir as escadarias encharcadas em direção ao banheiro. Alice foi à frente de todos esperando que nada lhes acontecesse. As escadas pareciam nunca terminar e ela sentia os pés pesados, mal os conseguia levantar de tão encharcados. Era realmente algo que não se sentia todos os dias.
Alice apenas conseguia se questionar durante aquela subida: “Tem isso alguma razão? Alex corre perigo? Foi algo que eu fiz? Estarei eu sonhando?”.
Quando ela percebeu, já estavam todos em frente á porta do banheiro. Alice começou a abrir a porta. Seu coração estava muito acelerado e seus olhos pareciam enganá-la, mas a única coisa que se via dentro do cômodo era a escuridão.
Um arrepio acompanhou Alice desde a cintura até a nuca. Ela sentiu os pés esfriarem. Olhou para trás para verificar se estavam todos lá e se Alex estava bem.
- Não dá para enxergar... - Alice cochichou esperando que algo dentro do banheiro a ouvisse.
- Será que as luzes funcionam aí?- Camila questionou. Alice tentou acender as luzes, mas nem saíram faíscas da lâmpada.
- Vamos pegar as velas. Estão bem aqui no quarto. - Alex sugeriu
Henrique virou para trás e abriu a porta do quarto. Era possível enxergar lá dentro, a janela estava com o vidro apenas e a luz da lua inundava o quarto.
- Ali na gaveta. - Alex lembrou apontando para o cômodo. Henrique pegou três velas e uma caixa de fósforos. Acendeu uma vela e entregou para Alice. Ela se assustou ao iluminar o banheiro.
Estava um enorme e gordo homem nú sentado no vaso. A criatura lembrou á Alex os lutadores de sumô que ele vira na T.V., mas esse era muito maior. Seu corpo era todo manchado de sangue.
Alice quase gritou, mas segurou a boca com a própria mão. Camila deixou escorrer uma lágrima e Alex segurou mais firme a mão de Henrique.
Do umbigo da criatura começou a escorrer um líquido preto. O fluído foi descendo vagarosamente até o chão e formou uma poça.
Então da poça levantou, de repente uma sombra humana que num movimento repentino retirou dois olhos de um bolso e os colocou dentro do rosto da criatura.
Depois, entregou-lhe um facão.
- Cadê as facas? - Alice gritou para Henrique - Cadê as facas?
- Esqueci lá embaixo! - ele gritou com o corpo começando a tremer e um pouco de sangue escorrer de sua orelha cortada.
- CORRE!- Alice exclamou dando um empurra em Camila que estava logo atrás.
Todos começaram a correr para o andar debaixo. Ela olhou para trás e viu que no corpo da enorme criatura formavam-se bolhas e quando estouravam formavam crateras em sua pele, de onde escorria um líquido amarelo.
Alice sentiu o tempo parar. Apesar de estarem descendo as escadas na maior velocidade ela sentia que tudo estava se movendo de câmera lenta em sua volta. Não era possível ouvir nenhum som. Nem mesmo as batidas do próprio coração.
De pé, as pernas do monstro pareciam menores. Ele não corria. Deslizava pelo chão e ás vezes parecia se tele portar tanto para mais á frente quanto mais atrás.Alice correu rapidamente em direção á mesa-de-centro e apanhou uma faca, mas já era tarde demais e o monstro lançara a dele.
Alice abaixou-se torcendo para que não acertasse mais ninguém. Olhou para o chão e percebeu vários fios de cabelos loiros caídos.
"Ele teve tamanha força para cortar meu cabelo em movimento?"
Então ela levantou e atirou a faca que acertou a cabeça da criatura bem no meio.
- Onde você aprendeu a fazer isso? - Henrique perguntou admirado enquanto a criatura caia de costas para o chão e se dissolvia em um líquido amarelo e malcheiroso.
- Tive que aprender a me defender - Alice disse olhando com nojo para a cena.
- Se defender de quem... Ou do que? - Camila questionou.
- É a vez de Alex... Então devemos... - Alice foi interrompida por Henrique.
- Não fuja do assunto! - Ele gritou irritado.
Camila cruzou os braços e Alex arregalou os olhos. Alice olhava para os três esperando que alguém ou alguma coisa interrompesse e vendo que nada aconteceria ela gritou:
- Eu só quero acabar com isso logo e me mudar desse país OK? E além do mais... - ela se interrompeu para enxugar as lágrimas que começaram a escorrer por suas rosadas bochechas. - Por que não tentamos quebrar as janelas?Henrique olhou para a porta.
- Por que não procuramos a chave? - ele questionou.
- Eu estou com a chave! - Alice disse enfiando sua mão no bolso direito do pijama.
Mas, ao invés de retirar uma chave ela retirou um pedaço de papel. Todos se entreolharam e ela começou a ler em voz alta, causando ecos por toda casa:
"Não se deve sair da casa desse modo. Deve-se vencer o jogo para sair. Se trapacearem... uma maldição sobre vocês ira surgir."

- Seria trapacear se quebrássemos uma janelinha? - Camila perguntou, mesmo sabendo a resposta.
Então um estalo chamou a atenção de todos, que olharam diretamente para a mesa-de-centro. Lá estava Alex cochilando em cima do tabuleiro.
- ALEX! - Alice gritou correndo em direção ao garoto.
Em cima da mesa estava o dado com a figura do sino.
- Alex, meu amor! Por que você fez isso? Acorde... Por favor... - Alice disse abraçando o garoto.
- Alice... Ele não está morto... - Camila interrompeu. - Vamos continuar o jogo para sair dessa merda de casa ok?
Alice deixou escorrerem duas lágrimas enquanto afirmava com a cabeça. Todos se sentaram novamente em torno da mesa-de-centro. Henrique agarrou o dado e em um movimento repentino o lançou na mesa.
O dado rolou em torno do tabuleiro... Então parou em um dente.
- P-p-pera a-a-a-aí... Isso s-s-significa a mo-mo-mo-morte?- Henrique cuspiu.
Então começou o barulho, vindo do quarto de Alex. Alice apanhou uma faca e ele apanhou outra. Camila foi até o chão e retirou uma terceira faca que estava entre o líquido amarelo.
O que seria aquilo? Morte? Nenhum deles estava entendendo muito bem. Então o mesmo barulho começou a vir da cozinha e do porão.
- Não é melhor alguém ficar aqui com Alex?- Camila perguntou.
- Fique com ele e não desgrude os olhos do sofá!- Alice gritou indo em direção do porão enquanto Henrique começou a subir as escadarias (todos os degraus estavam rachados por causa das aventuras anteriores).
Alice pensava consigo enquanto o barulho suavizava: "se jogássemos enquanto os monstros atacam teria fim com o próximo jogador? São apenas dez casas para andar... Apenas dez passos para poder sair desse...”.
Então a porta embaixo da escada se abriu sozinha. Alice, mesmo com receio entrou na escuridão. “Droga! Tínhamos que esquecer as velas?”. Ela tropeçou em algo, abaixou-se para perto do objeto duro e começou a apalpá-lo. "Uma lamparina! Ufa!”
Então, apertando um pequeno botão na lateral ela ascendeu a lamparina e prosseguiu pela escada úmida de madeira.
Chegando embaixo, só era possível visualizar uma coisa: Um monstro em cima de um baú avermelhado. A criatura era escura e avermelhada, seu cérebro estava á amostra e seus olhos eram pequenos e vermelhos. De sua barriga, estavam presos por três cordas, seis bebês amarrados pela perna.
Ele se levantou e olhou diretamente para Alice. Um dos bebês riu, o outro chorou, outro vomitou e os outros três dormiram. A criatura abriu a boca, mostrando dentes do tamanho de facas e um hálito que fez Alice quase desmaiar.
A criatura levantou-se vagarosamente enquanto seu umbigo dobrava de tamanho, mais parecendo um buraco na barriga que mostrava todos os órgãos internos. O monstro a esqueceu e continuou a fitar o baú.
"Que estranho... ele está me ignorando ou está aguardando Henrique”.
Então ela jogou a faca, acertando o monstro bem na medula óssea. Ele se levantou ferozmente e pulou para cima de Alice que desviou correndo para o fundo do porão. Ela ouviu um grito vindo de cima, mas continuou atenta para que a criatura atacasse.
Quando o monstro pulou, ela correu mais para o fundo, encontrando uma velha panela de pressão. Ela a agarrou e se preparou para acertar o monstro.
Ele pulou. Um frio tremendo tomou conta de Alice. Ela se preparou. Retesou. Apontou e com toda sua força acertou a testa da criatura, que caiu de costas, afundando a faca. Ele soltou um grunhido fino e se contorceu. Alice notou que ele apenas estava se preparando para um novo ataque e então pensou:
"Ainda bem que eu assisto T.V. com meu filho!”.
Ela correu até ele e o virou de costas. Puxou a faca e quando ia atacar a criatura a segurou pelo pescoço. Em um ato de desespero Alice esfaqueou a criatura se sujando com o líquido amarelo e malcheiroso. Aproveitou a brecha e cortou-lhe do umbigo as três cordas.
Do buraco começou a escorrer aquele líquido amarelo, porém, das cordas escorreu um líquido ácido, que perfurou o chão e fez Alice cair. A única coisa que ela pôde fazer foi agarrar a lamparina.
O monstro revelou haver um novo andar que Alice nunca ouvira falar. Ela levantou-se dos poucos escombros e seguiu pelo corredor até que ouviu Camila:
- Alice... Precisa de ajuda? - ela gritou de cima.
- Cadê o Alex? - Alice perguntou.
- Aqui comigo! - Camila respondeu.
- Espere! - Alice gritou.
Mas quando ela se virou para frente viu o que realmente lhe chocou: A SALA ERA UMA CÂMARA DE TORTURA.
- Mas que lugar é esse?- Alice se perguntou.
Então ela ouviu um barulho nos escombros. Estaria a criatura viva. Virou-se pra trás para ver o que estava acontecendo então ela viu que lá estavam Camila, Alex e Henrique com o tabuleiro, o dado e o baú vermelho que o monstro olhava.
- O que vocês estão fazendo aqui? O que aconteceu lá em cima? - Alice perguntou.
- Tem uns trinta monstros lá em cima. Não dava para encarar todos! - Henrique respondeu com a respiração pesada.
Camila, que segurava Alex no colo o entregou para Alice e olhou em volta.
- Mas, que lugar é esse? - ela perguntou.
Alice fez sinal que não sabia.
- Parece que era uma câmara de tortura. E esse baú... Vamos abrir? O monstro que eu enfrentei estava bem em cima disso - ela respondeu.
Todos se aproximaram do baú. Mas quando Henrique ia abri-lo a porta do andar de cima se escancarou.
- CORRE! ELES NOS ACHARAM! - Camila gritou.
Todos começaram a correr pelo corredor. Havia várias máquinas de tortura e o corredor nunca terminava. "Nós estamos no subterrâneo da cidade?" Pensou Alice sentindo um cheiro de esgoto.
Os monstros começaram a invadir o corredor atrás deles. Eram todos iguais àqueles que Alice tinha enfrentado, porém havia um maior que parecia comandar aos outros.
Então eles pararam. Era um beco sem saída. A única coisa que havia na frente deles era um espelho.
- O QUE NÓS VAMOS FAZER? - Henrique perguntou.
- Vamos quebrar o espelho! - Alice disse chutando o baú para o espelho.
Porém, ao invés do baú quebrá-lo, ele atravessou o espelho. Todos ficaram fitando o espelho até alguns dos bebês chorarem.
- ENTRA!- Alice gritou.
Um por um eles foram entrando no espelho.
Alice deu Alex para Camila, que entrou primeiro. Depois, ela e Henrique entram um atrás do outro. Dessa vez estavam em um corredor branco e eles deixavam para trás apenas uma parede concreta. Alice e Henrique agarram o baú e começaram a correr pelo corredor e quando o dobraram para fugir, puderam ver que lugar era aquele:
- O hospital de Silent Hill?
Ambos olhavam para todos os lados a procura de algo ruim, mas nada acontecia.
- Agora é a sua vez! - Alice disse para Camila. Então quando Camila agarrou o dado elas ouviram um enorme barulho vindo do corredor do espelho.
- CONTINUA CORRENDO! - Alice gritou. - Temos que achar o elevador!
Todos começaram a correr para o elevador. Henrique olhou para trás e viu que os monstros ainda os seguiam.
E lá no fundo do corredor estava já visível o elevador, que, para a sorte deles, já estava naquele andar. Todos entraram e Alice apertou o botão do telhado. O elevador começou a subir, afastando o som dos monstros e começando o som de choros e gritos.
- Camila, jogue! - Henrique falou.
Ele colocou o tabuleiro no centro do elevador e Camila jogou. As peças ainda estavam presas ao tabuleiro como se fizessem parte dele. O dado parou. Faca.
Camila suspirou e sua peça andou. Agora era a vez de Alice. Ela agarrou o dado e jogou rapidamente. O dado parou. Sangue.
Então Alex começou a acordar, e bem devagar se espreguiçou, coçou os olhos e disse:
- Já é a minha vez? Vamos acabar logo? - ele bocejou.
Alice o abraçou e lhe dou um beijo na testa. Ele então agarrou logo o dado.
Mostrando coragem e determinação o jogou. O dado parou. Dente.
Então o elevador parou. Estava no nono andar. Tudo ficou escuro e as portas se abriram.
- Teremos que usar a escada - Camila falou.
Todos desceram correndo do elevador e correram para as escadarias, e bem em frente á porta que as guardava encontram...
- Mas que bicho é esse? - Henrique perguntou fitando a criatura.
Então a criatura começou a se virar mostrando uma cara toda costurada, olhos vermelhos e dentes afiados. Parecia que parte de sua pele fora arrancada e se vestia de enfermeira, com roupas brancas e uma ENORME seringa entre os dedos. Alex gritou quando a enfermeira olhou bem em seus olhos.
Alice agarrou a mão dele e encarou a criatura, que começou a se aproximar. Henrique entrou na frente e deu um soco na criatura, qual caiu no chão.
- Vamos! - Henrique gritou. Alex correu na frente, depois Camila com o baú e Alice, por fim Henrique, que avistou vindo do fim de um corredor paralelo, dez daquela criatura.
Todos começaram a subir as escadas rapidamente. Então se ouviu a porta se abrir embaixo, por onde começaram a entrar várias enfermeiras.
- MAIS RÁPIDO!- Alice gritou.
Todos subiram com a maior rapidez possível. E, depois de muito cansados, alcançaram o telhado. Então Alice trancou a única porta, qual as enfermeiras poderiam entrar.
- É a sua vez Henrique. - Alice apressou.
..::HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH::..
- NÃO É A VEZ DE MAIS NÍNGUÉM! - Camila gritou com a voz mais alta e rouca que Alice já ouvira antes.
- Como?- Alice perguntou - O que está havendo?
Camila jogou a cabeça para trás e deu uma forte risada.
..::HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA::..
- Desde o começo eu só queria o Alex! Nós nos mudamos para cá e eu fiquei doente. Tive que vir ao hospital. Mas você acha que eu gostei? NÃO! Adivinha quem era o dono do hospital, que criança nunca veio ao hospital e que mão retirou a criança daqui sem motivo algum? Conta para Henrique, enquanto ele está vivo quem te perseguiu a forçando a treinar luta!- Camila gritou doentia.
- Meu pai... - Alice chorou.
- Pois é... Seu pai e você. Seu filho nunca veio ao hospital e quando veio VOCÊ o tirou de nós! Seu pai se decepcionou tanto com o fato de que você tinha quinze anos! Ele comprou o hospital e adivinha quem teve que pagar por o que você fez? TODAS AS CRIANÇAS! Ele levava todas elas para a câmara de tortura! Comprou todas as enfermeiras e transformou tudo em um caos aproveitando que a cidade não era completamente assombrada ainda! Ele quer matar o Alex! E olha no que eu me transformei por sua causa!- Camila esbravou.
A pele de Camila começou a ressecar. Duas lágrimas de sangue escorreram de seus olhos. Então sua barriga foi cortada por uma lâmina invisível e de dentro de sua barriga começaram a sair dois braços.
Um monstro gigantesco saia dela. Eram vários corpos juntos só que grudados come se fosse uma carne só. E bem em cima de tudo, da cintura para cima estava: o pai de Alice. O monstro tomou metade do telhado, todos os corpos se debatiam.
- Pois é, minha filha, lembra daquele filme que vocês viram logo que eu comecei a maldição? Eu era a criança! Eu participei de um culto diabólico na minha infância! E não foi porque eu queria!- sua voz vinha de todos os cantos. Então começou a chover. - Eu fui obrigado a isso e agora obrigarei Alex!
O corpo de Roger, pai de Alice se direcionou á Henrique e apenas o fitou nos olhos. Ele começou a engasgar.
- HENRIQUE!- Alice gritou enquanto Alex chorava encolhido em um canto.
O rosto de Henrique começou a borbulhar e a espirrar sangue com aquele líquido amarelo. Seus olhos se desmancharam em sangue. Alice olhou novamente para o monstro enquanto duas lágrimas escorriam de seus olhos.
- VOCÊ NÃO VAI LEVAR ALEX!- Ela correu em direção ao menino e o abraçou.
- Eu não vou levar mesmo. VOCÊ VAI LEVAR!
..::AMUNTIOS NATICOS SINSALORI TUBECANTHO IMARRARTI!!!!::..
Alice já não ouvia, falava ou sentia... Ela agarrou o menino, abriu o baú vermelho, que continha um punhal e se dirigiu ao monstro. Um buraco se abriu em sua barriga e Alice entrou agarrando Alex que gritava e chorava. A sala era idêntica á que foi vista na televisão. Os mesmos corpos estavam em orgia. O mesmo velho espiava bem ao fundo: Roger.
Alice colocou Alex no centro da roda e encravou em seu peito o punhal. Alex começou a se transformar naquele mesmo monstro, só que havia apenas o corpo de Camila e Henrique grudados como base.
Alice voltou a si e quando viu aquilo começou a chorar. O monstro a cuspiu. E tudo desapareceu... Ela estava sozinha no telhado do hospital.
“Por que comigo? Porque assim?”
Ela caiu de costas no chão. Não conseguia se mover. Então se arrastou para a beirada e se jogou. E enquanto o chão chegava lentamente como se tudo estivesse em câmera lenta. Ela se lembrou de tudo o que aconteceu, de toda sua vida... Alegrias e tristezas misturadas.
Era o fim para ela, sem Alex, seu pai um monstro, sua mãe, provavelmente cúmplice e sua melhor amiga morta... Não lhe restava mais nada a não ser o chão.

..::FIM::..

hehehe... que horrível... hoje eu leio iso e nem acredito que escrevi tanta coisa besta... axando que era terror hehehehehe...

espero que gostem...

A Porta Trancada

É claro que a gente não ia passar o mês do halloween em branco né? Escrevi este para abrir a "maratona". É bem curtinho... mas divertido [pelo menso para quem gosta de sangue... hehehehe] aí vai a "obra":

A Porta Trancada


- Por favor, querida! Deixe-nos entrar!
Um choro era ouvido dentro do quarto, e em meio á ele fora dito:
- Não! Por favor... Não entrem!
- Seu pai vai por essa porta abaixo! – a mãe disse, desesperada.
- Eu já perdi a paciência com essa menina! Não vou mais pedir por favor! – o pai reclamou, de maneira bruta.
- Querido! – a mulher disse, cerrando os dentes e olhando para ele. – pelo menos nos conte o que está acontecendo, meu anjo.
- Vocês não vão acreditar. – a menina gritou, entre choro.
- Pelo menos tente. – a mãe continuou, insistentemente, recostada á porta, com a cabeça apoiada sobre os ombros, uma das mãos na maçaneta e a outra fazendo sinal para que o marido se acalmasse.
Ambos ouviram a garota suspirar em meio aos soluços do outro lado da porta trancada.
- Tudo bem. – enfim, falou a voz fina e chorosa. – começou no dia das bruxas. Não me lembro direito o que estávamos conversando... Ah sim! Era sobre um filme de horror onde o mocinho enfrentou os monstros praticamente desarmado. Aí já viu né: “Eu tenho moral para fazer isso!”, o Gustavo disse com aquele jeitão dele sabe?
- Sei sim querida! Sei sim...
- Então... Desse jeitinho aí sabe? Tipo, eu respondi “Tem nada!”, daí é que o bicho ficou irritado! – a garota engrossou a voz para imitar o colega. – “Pelo menos eu tenho mais moral que você!”, todo irritadinho!
O pai sentou-se ao lado da porta, enquanto a mulher ainda permanecia de pé.
- Continue querida! Continue. – a mãe apoiou.
- Eu tive que me defender né? “Eu não tenho moral? Claro que sim!”. – alterou a voz novamente. – “É, acho que não tem!”.
Ela voltou a chorar, dessa vez ainda forte.
- Se acalme querida... Senão não entenderemos nada! – a mãe falou, sentando-se ao lado do marido.
Alguns minutos se passaram ante a calma voltar e ela continuar.
- “Eu duvido que você tenha moral de ficar uma hora na igreja abandonada!” ele falou, me desafiando. Eu tive que aceitar, senão ele ia ficar tirando sarro de mim e ia me fazer a paciência. A gente apostou alguns doces. Eu tinha que levar uma câmera e filmar tudo para provar que fui eu quem ficou uma hora. Eu queria ficar pelo menos duas horas, pra provar para ele!
Um raio cortou o céu e pôde ser visto pela janela do corredor, iluminando a face dos dois pais, assustados e desesperados, logo em seguida pôde ser ouvido o trovão e o início de uma grossa e densa chuva.
- Quando chegou a hora, fugi pela janela com uma câmera emprestada e fui lá.
- Que bobinha... – o pai falou, com certa pena.
- Isso não vai ajudar! – a mãe reclamou, dando um leve, mas barulhento tapa no ombro dele. – Continue, por favor!
- Fiquei lá na igreja tipo... Ah... Foi tipo, um bom tempinho. Meu erro foi ter ido á noite sem dormir á tarde. Acabei adormecendo encostada em um dos baços que estavam enfileirados até um tipo de altar. Acordei depois. Olhei no relógio e já passava da meia noite. Tinha um tipo de cantoria horrível que ecoava por toda parte. Não tem como descrever aqueles sons com palavras humanas... E as coisas que senti naquele momento...
- Como assim? – o pai, já calmo, perguntou.
- O mais parecido com o que senti naquele momento foi medo, mas não era bem isso... Era diferente... Eu não sei falar! Ai! Me arrepiou de ponta á ponta... Credo! Ai! Ai! – gritou.
- Tá tudo bem aí? – a mãe perguntou.
- Ai! Tá horrível! – a menina respondeu, ainda chorando.
- E o que aconteceu depois? – o pai deu continuidade.
- Ai! Ai! O que houve é que... Ai! O gato morreu de curiosidade. Eu fui ver de onde vinha o som. Era debaixo da igreja. Vocês já foram lá certo? – perguntou.
- Fomos sim...
- Tem aquela... Ai... Escadinha de madeira do lado do altar que leva a gente para baixo sabe? – responderam que sim. – Então, desci por lá. Aquele porão estava com umas dez pessoas. Todas contavam a música e dançavam de um jeito muito estranho. Usavam máscaras. Mas tipo, não era bem mascaras... Ai... Pareciam de verdade... Pareciam até respirar. “Super” estranho. Só sei que aram máscaras porque depois um deles tirou. Tinha um desenho vermelho feito com linhas bem grossas no chão, e em cada ponta do desenho tinha uma vela. Eu achei que era sangue mãe... Mãe! Ai!
- Querida! Por favor, abra a porta!
- Não! Ai!
- Então continue... A gente tá preocupado com você!
- Tá bom... Eu dei meia volta e estava saindo quando meu pé fez ranger aquela madeira velha. – continuou aos soluços. – aí um deles tirou a máscara e cuspiu na minha costela um inseto feio demais! Parecia uma borboleta... Mas era muito estranha... Não sei nem como explicar. Não era um inseto normal! Era maligno! Eu sei disso porque depois as coisas só começaram a dar errado. Corri pra casa e tirei aquela coisa nojenta de mim... Ai credo! Isso tudo no domingo. Na segunda eu fui na escola e mostrei o vídeo pro Gustavo... O vídeo e a borboleta. Na terça começou aquela coçeira horrível na minha cabeça. Eu coçava, coçava... Na quarta, eu coçei e senti um ardido sabe? Aquele que faz a gente até sentir arrepio! Me segurei o máximo para não coçar. Vim andando para casa... Aí é que ardeu mesmo... Na sexta, vocês foram viajar... Ai! Na sexta vocês... Ai, ai! Voltei da escola normal, vi logo na entrada que o telefone fora cortado e assim que entrei no quarto, vi um bilhetinho que minha avó deixou para mim, avisando que foi pro centro da cidade resolver as coisas do telefone cortado por engano. Não agüentei e coçei de novo. Mal relei a mão porque grudou no meu dedo um tipo de “casquinha” bem fininha e nele, uns fios de cabelo. Com um cheiro salgado. Me atrevi e encostei “rapidão” de novo no machucado, que tava ardendo muito, muito mesmo sabe? Senti uma superfície carnosa... Tipo... Tipo gelatina... Ai! – a mãe começou a chorar. – Passei remédio e fui dormir. Acordei umas duas horas depois e fui ver se a vó já tinha chegado. Nada. Ai! Passei a mão pela cabeça e senti uma casca em cima do machucado... No meu braço tinha uma também. Me desesperei e fui pra cama pra ver o que aconteceu. Tinha cabelo para todo e quanto é lado. Eu tirei as cascas sem muito esforço, elas não estavam grudadas na pele, mas sim em um líquido amarelado bem denso. Passei a mãe pelo buraco que ficou... Ai... Ardia muito. E ficaram buracos mesmo... No meu braço dava pra ver a carne... Ai credo! Sério mesmo, eram crateras! Tentei chamar ajuda, mas os telefones estavam mudos! Procurei pela chave em todos os lugares que vocês podem imaginar...
Os pais ouviam chocados, mal acreditando nas palavras da garota, cuja voz estava ficando cada vez mais fraca.
- Meu corpo todo começou a coçar... Eu senti um gosto horrível de sangue e tentei beber um pouquinho de água. Senti um gosto mais forte ainda depois que bebi. Aí senti uma pedrinha enroscada em minha garganta. Cuspi na pia. Era um de meus dentes.
- Filha? – o pai gaguejou.
O choro de ambos os lados tinha ficado mais forte.
- Meu corpo coçava! Coçava! Inteirinho. Aquele bicho tinha deixado em mim uma maldição! Não tinha como chamar ambulância. Me tranquei no quarto. Aí a vó chegou... Chamou vocês e o resto... Ai! O resto vocês... AI! Vocês já sabem. AI! AIE! Ai! Ai, ai, ai, ai... Tá saindo! AI! NÃO CONSIGO ME LEVANTAR! AI!
Após isso, não houve sem algum por meio minuto, a não ser o som da chuva.
Ignorando o choro da esposa, o pai se levantou e, em movimentos muito fortes com os braços, derrubou a porta. Um terrível cheiro inundou-lhes as narinas e quase os fez vomitar.
Havia sangue e um líquido amarelo por toda parte, enquanto um cadáver completamente sem pele estava jogado ao chão.



Esse foi o mais diferente dos que escrevi... O mais nojento também... espero que curtam...

05/04/2008

Conto fresquinho: Arame Farpado

Hehehe... Mais um conto que fiz para a escola... Dessa vez o tema era livre mas tinha que usar flashback... Aí vai a obra:

Arame Farpado

Dormiam. Sonhavam.
Passava da meia noite, as duas gêmeas Karen e Sarah dormiam quando de repente, o som estridente do telefone ecoou por toda a casa.
Karen foi a que se levantou, com as feições sonolentas, para atendê-lo. Cruzou o corredor que dividia o quarto do escritório com as mãos estendidas para evitar que trombasse com alguma parede.
Vagarosamente a garota andou até o telefone grudado á parede e o agarrou com as duas mãos. Levou-o aos ouvidos e disse enquanto bocejava:
- Alô?
O telefone não emitia nenhum som.
- Alô?!
Uma estranha voz infantil começou a cantarolar uma música. Karen gritou. Correu até o quarto, onde a irmã já estava acordada, com a respiração forte, assustada.
- Sarah! Era ela! A garotinha! Cris corre perigo! Eu ainda corro perigo! – berrou.
- Mas... Nós encontramos o corpo! Nós a queimamos! O que fizemos de errado? – Sarah se questionou levantando-se da cama e pegando na gaveta uma porção de roupas.
Ambas se vestiram rápida e basicamente. Blusa branca, jeans, tênis. Logo depois, saíram correndo em direção ao carro.
- As chaves! – Karen gritou.
Sarah entrou rapidamente na casa e agarrou o molho de chaves esquecido em cima da mesa-de-centro na sala, ao lado de um vaso de porcelana azul com rosas vermelhas.
Novamente a garota saiu no jardim e correu até a irmã, que a esperava em frente ao carro. Entraram.
Karen agarrou as chaves com força e ligou o carro, que saiu em disparada em meio á estrada fria.

Estava uma tarde nublada. As duas irmãs estavam sentadas juntas, uma ao lado da outra, no duro banco de plástico do ônibus escolar, voltando para a casa.
Sarah consultava o relógio frequentemente, era uma hora da tarde quando o ônibus fez sua ultima parada antes que chegassem ao ponto onde iriam descer. Logo, o veículo parou novamente e as duas gêmeas se levantaram, iguais, e entraram na fila junto ás outras pessoas que também estavam descendo.
Desceram, seguidas por Kevin, que desceu logo em seguida enquanto dizia:
- Até amanhã meninas... Até amanhã Sarah.
- Muito engraçado... Muito engraçado... - a garota resmungou dando uma gargalhada seca e sarcástica.
O garoto riu e seguiu pelo caminho oposto ao das irmãs, que logo estavam em frente ao portão de suas casas.
Karen retirou o molho de chaves do bolso e abriu a porta. Ambas correram ao quarto, onde largaram as pesadas mochilas em cima da cama.
- Vou tomar banho. – Sarah avisou.
- Tá. – Karen respondeu, indo até a sala, onde ligou o computador.
Sentou-se em frente ao aparelho, aguardando sua vez de ir ao banheiro. Conectou-se á internet e rapidamente entrou no orkut, onde pretendia verificar se alguém lhe deixara alguma mensagem nova.
Nenhuma.
Começou a ver as novidades pelas comunidades. Logo o chuveiro fora desligado. Karen continuou procurando por algo interessante até que encontrou um tópico muito estranho, ao qual, mesmo não admitindo á si mesma, a espantou:

Oi, meu nome é Thalita.
Se eu estivesse viva, hoje, eu teria quinze anos. Eu sempre fui uma menina muito, muito boa. Fui uma menina daquelas quais todos pensavam ser uma boneca de porcelana.
Porém havia um homem em minha vizinhança que não gostava de crianças. O quintal dele era espaçoso e não havia cerca alguma, portanto todos meus amigos e eu adorávamos andar de bicicleta lá. Ele sempre nos expulsava aos gritos quando nos notava lá.
Uma noite, em silêncio, ele colocou uma cerca com arame farpado. No dia seguinte, eu e minha família fomos viajar e lá, ganhei a bicicleta que tanto pedira durante vários anos para minha mãe.
Voltamos tarde para casa e já era noite. Empolgada com minha nova bicicleta, eu decidi ir testá-la no vizinho do quintal gigante.
Foi quando eu conheci o arame farpado de perto, muito perto. O Vizinho me viu caindo e começou a rir, porém ao ver que não me levantava começou a se desesperar. Sem saber que eu ainda estava viva, ele me enterrou em seu quintal enquanto cantarolava uma estranha canção:
Ininxanem Asumasem Isanxicu...
Agora que você leu essa cantiga, você deve passar essa mensagem em pelo menos vinte comunidades diferentes em apenas vinte minutos. Senão, você também vai conhecer meu arame á meia noite, pois já estou te esperando no telhado de sua casa, o telhado de onde meu vizinho se matou.
Não pense que isso é uma brincadeira. Vários tentaram rir de mim... E foram essas várias pessoas enterradas no dia seguinte.
Não me ignore.

- Ei! O que você está vendo? – Sarah falou já de pijamas, ao lado de Karen.
A garota, sentada em frente ao computador, sentiu um arrepio de susto do aparecimento repentino da irmã. Ficou muda.
Silenciosamente, Sarah leu o que estava escrito na mensagem.
- Você ficou assustada com essa baboseira é? – riu.
- Eu não! – Karen respondeu, com um tom de voz muito fina.
- Tá... Por que a gente não passa essa mensagem pro Kevin... Ele vai ficar morrendo de medo!
- Tá... Aí, só para garantir a gente espalha pras comunidades da escola também... Vai ser um sarro só amanhã. – disse, entusiasmada.

Karen revirava-se de um lado para outro na cama. Estava sem sono algum. Consultou o relógio na mesinha ao lado de sua cama. Faltavam cinco minutos para a meia noite.
Baque.
A garota assustou-se. Vinha de fora da casa.
- Ei! Sarah...
- O que foi? – a irmã gemeu sonolenta.
- Eu ouvi alguma coisa lá fora...
- Pare de tentar me assustar! Você não vai conseguir... – Sarah falou, puxando as cobertas para junto de seu peito.
Karen levantou-se e agarrou um molho de chaves em sua gaveta. Andou vagarosamente até a porta da frente. Saiu.
Um corpo falecido caiu bem em sua frente. Um homem. O assassino de Thalita.
Olhou para cima. Gritou fortemente.
Lá estava a garota em cima do telhado. Com cabelos negros que escondiam seu olhar.
Karen correu para dentro da casa, onda a irmã a esperava no quarto, de pé, em frente ás camas.
- Thalita! Ela está no telhado! – gritou desesperada.
- Pare de falar bobagens! – a irmã retrucou. – e pare de gritar... A mamãe vai acordar.
De repente Sarah paralisou-se. Abriu a boca como se fosse gritar enquanto olhava atrás de Karen.
- Karen... Precisamos sair dessa casa! Pegue as chaves do carro.
A garota começou a virar o pescoço para ver o que havia atrás dela.
Thalita.
Gritou.
As duas congelaram. Não sabiam o que fazer. De repente a luz se ascendeu.
- O que está acontecendo aqui meninas? – Regina, a mãe das garotas perguntou.
Ambas ficaram mudas.
Os olhos das irmãs continuaram abertos até o sol nascer. Ouviram passos no telhado e barulho de queda durante toda a noite.
Logo a mãe gritara da cozinha:
- Hora de irem para a escola!
Arrumaram-se em silêncio. Não comeram nada. Ficaram mudas dentro do ônibus até Sarah admitir:
- Eu já tinha lido essa mensagem.
- O que?
- É... Eu já conhecia, e já tinha passado a mensagem para frente, por isso, quando vi que você leu, eu não li novamente a cantiga.
Karen não respondeu.
- Kevin não está no ônibus. – Sarah falou, preocupada.
- Essa não!
Não conseguiram prestar atenção ás aulas. Faltavam poucos minutos para o intervalo quando a diretora entrou na sala de aula com as feições tristonhas.
- Os pais de seu colega, Kevin, acabaram de ligar. – começou.
As gêmeas levantaram seus rostos, sérias.
- Ele está no hospital... Com vários cortes de arame farpado pelo corpo. – a mulher concluiu.
O sinal que anunciava o inicio do recreio soou por toda a escola. Os alunos saíram todos cabisbaixos.

Thalita apontava para o chão da casa de Karen enquanto ele ardia em chamas. A estranha garota começa a andar em sua direção, sem mostrar os olhos.
Karen grita. Levanta sua cabeça. Todos dentro da sala de aula olhavam para ela.
- Karen... Você está bem? – Sarah perguntou, preocupada.
- Tive um pesadelo. – cochichou.
- Com uma garota que apontava para o chão em chamas? – uma voz grossa questionou ao fundo da sala.
As duas irmãs olharam para trás. Era Cris.
- Eu li a mensagem de vocês na comunidade da escola. Ela ficou no meu telhado fazendo barulhos toda a noite. – o garoto concluiu.
- Nós não sabíamos que era verdade! – ambas falaram em conjunto.
- O que você pensa que deve significar o sonho, Karen? – ele perguntou.
A garota fechou os olhos por alguns instantes.
- Devemos encontrar o corpo e queima-lo. – disse, enquanto abria os olhos.
- Mas em qual casa procurar?- Cris questionou.
- Em seu sonho... Você via sua casa? Ou era uma casa desconhecida? – Karen perguntou.
- Desconhecida. – o garoto respondeu.
- No meu... Era minha própria casa.

Os três olharam para a casa. Cris voltou seu olhar ás duas irmãs e balançou a cabeça positivamente.
Foram para dentro e apanharam pás. Começaram a cavar.

O sol desaparecia no horizonte.
- Não encontramos nada ainda... E olha que reviramos muita terra! – Sarah reclamou, com o suor coberto de poeira. – Tomara que haja tempo até meia noite.
De repente Karen pára. Espera sua respiração ficar mais calma e fala:
- O corpo está aqui! Eu o encontrei.
Cris agarrou o galão de gasolina retirado do carro de sua mãe e despejou todo o conteúdo no buraco onde havia um esqueleto quase totalmente decomposto. Ascendeu o isqueiro. Jogou.
Todos sentaram em frente ao fogo para ver sua obra. Conseguiram. Ou não?

A estrada estava escorregadia. Começou a chover.
Sarah estava encolhida em seu canto, no carro.
- Mas... O que deu de errado? – se questionava.
Karen, de repente entendeu.
- O corpo estava quase totalmente decomposto. A essência de thalita continua ali... Fazendo vítimas e mais vítimas. – falou.
- Isso quer dizer que você vai morrer? Se machucar? – Sarah começou a chorar.
Karen olhou para o retrovisor. Thalita estava no banco traseiro. Seu olhar escondido por seus longos cabelos pretos. Cris estava todo envolvido por arames farpados. O garoto respirava com muita dificuldade.
As duas irmãs gritaram.
Karen sentiu o arame farpado envolver seu pescoço. Sentiu o sangue escorrendo por seu corpo. Seu pé afundou no acelerador.
Poste.
Os corpos das irmãs e de Cris voaram pelo vidro, estraçalhando-o.

Se você encontrar essa mensagem pelo orkut. Se o começo for parecido com qualquer coisa como essa... Não leia até o final. Se ler... Obedeça.

Fim...

27/03/2008

Novo conto- A Casa


Espero que gostem desse meu novo conto... Eu achava o da loira do banheiro melhor... mas se pensar bem, esse aí é o que eh gosto mais dos que eu escrevi...



A Casa



A aula estava mais que chata. Joyce tentava desesperadamente ficar acordada enquanto o professor gago, baixo e calvo de geografia falava de maneira que apenas os que estavam sentados na primeira fileira ouviam e talvez, se nenhum som viesse de fora da classe, a segunda também estaria ouvindo. Ela estava na última fileira.
Seus olhos começaram a ficar pesados. Seu corpo relaxou e sua cabeça começou a cair sobre a carteira. Então, uma bola de papel acertou-lhe a cabeça. Fora Giovanna quem fizera aquilo.
Quando Joyce olhou, a garota gesticulou com a boca:
- Você quer fazer dupla comigo?
Ela não entendera.
- Do que você está falando? – gesticulou como resposta.
Giovanna apontou para a lousa, onde o professor escrevera em letras minúsculas:
Trabalho para entrega. Tema: Assassinato. Mídia: Slide, texto, vídeo, gravação ou pesquisa. Grupo de máximo quatro integrantes. Dia da entrega: Primeira semana do próximo bimestre.
Joyce balançou a cabeça tentando acordar para anotar em seu caderno e fez um sinal positivo com a cabeça para Giovanna, que gesticulou novamente a boca:
- Precisamos ver mais alguém.
A garota balançou a cabeça novamente.
- A Jéssica. – gesticulou.
Giovanna amassou outro papel e jogou na cabeça de Jéssica, assim como fizera há pouco com Joyce.
Jéssica não notou.
- Psiu... Jess! – sussurrou.
A garota olhou para trás.
Dessa vez, além de gesticular com a boca, Giovanna também fez gestos com as mãos.
- Você quer fazer grupo com a gente?
Jéssica fez sinal positivo com a cabeça e logo depois mostrou a língua para Erick.
Ele provavelmente a tivera provocado dizendo que ninguém a convidaria.
- Posso chamar a Ariel? Ela é bacana! – Jéssica sussurrou.
As outras duas deram de ombros e logo depois Giovanna fez um sinal positivo com a cabeça.
O sinal para a saída da escola soou, o que fez todos os alunos levantarem instantaneamente, apanharem suas materiais e correrem.
- Ei, Ariel!
Ela olhou para trás, onde estavam as outras três garotas.
- Você quer participar do nosso grupo? – Joyce convidou.
- Ah... Pode ser! – a garota respondeu sorrindo.
Joyce também deu um risinho. Era o melhor grupo que já participara.
- Precisamos nos reunir em algum lugar para decidir sobre o que vai ser... – Jéssica lembrou.
- Pode ser na minha casa? – Ariel disse esperançosa.
As outras fizeram um sinal positivo com a cabeça.
Por dentro, a garota gritou, comemorou, berrou, mesmo que por fora, exibia apenas um sorriso meigo. Ariel nunca participara de um grupo como aquele e notou que Joyce estava no mesmo estado que ela.
Todas saíram da escola, se despediram em frente ao portão e seguiram caminhos diferentes, Joyce e Ariel seguiram juntas para o mesmo lado.
- Ei... Você já esteve em grupo melhor? – Joyce puxou conversa.
Ariel balançou a cabeça negativamente enquanto ria.
- Mas por que elas queriam fazer desesperadamente esse trabalho a ponto de começar agora, sendo que é para o próximo bimestre? – a garota continuou.
- Você não ouviu o que o professor falou? – Ariel perguntou, surpreendida. Não esperava que Joyce fosse tão desatenta, uma vez que todas suas notas eram umas das melhores da classe.
- Não... Eu acho que adormeci enquanto ele explicava... E... Do fundo não dá pra ouvir a voz dele.
- A nota desse trabalho é setenta por cento da nota dele e de mais três matérias.
- Quais?
- Ciências, História e Português, cada um avaliando sua área.
Joyce ficou impressionada com a pressão que os professores colocaram sobre eles. Como aquilo no terceiro bimestre? Apesar de que teriam quase um mês para concluir o trabalho e quem se esforçasse bem, conseguiria até mesmo recuperar as notas dos outros dois bimestres.
As duas caminharam um tempo em silêncio até que Joyce falou:
- Nossa... Estou sem palavras... Agora fiquei até assustada.
Ariel concordou com a cabeça. As duas andaram por mais algum tempo sem conversarem até que um raio cortou o céu, seguido por um estrondoso barulho de trovão.
- Nossa. Vai chover bastante. – Joyce comentou ainda assombrada com a notícia que sua nova amiga dera.
As duas pararam de andar.
- Bom... Aqui a gente se separa. – Ariel sorriu.
- Nossa! Não sabia que a gente morava tão perto...
- É? Onde fica sua casa?
Joyce gesticulava o caminho com as mãos enquanto falava:
- Eu sigo mais uma quadra, viro á direita e já é lá.
Ariel ficou quieta por um instante até que resolveu comentar:
- Por que nunca nos falamos na escola?
Joyce estava com a mesma dúvida.
- Não sei... Mas parece que nos demos tão bem!
- É...
- Você conversou com a Jéssica?
- Não, eu a ajudei com um trabalho. – Ariel respondeu.
Joyce abraçou os livros que carregava com mais força, estava esfriando.
- Foi dela a idéia de te chamar.
Ariel sorriu.
- Nunca imaginei entrar para seu grupo... – falou.
- Nem eu. Eu fiquei mais com elas do mesmo jeito que você, só que ajudando a Giovanna, e na época, a Érica completava o trio, mas aí ela mudou de escola e eu “assumi” o cargo. Mas pelo visto agora seremos um quarteto... – Joyce riu, com um olhar pensativo.
- Quatro cabeças pensam melhor que três. – Ariel sorriu de volta. – Bom... Tenho que ir, antes que comece a chover.
As duas fizeram sinal de despedida com as mãos e seguiram cada uma para sua casa.

Joyce não conseguia dormir, ficava o tempo todo pensando no trabalho. Todos os outros do ano ela fizera de última hora, mas este, este deveria ser diferente. Este deveria ser bem planejado, uma vez que ela estava com falta de notas em história.
Revirava em sua cama sem nem piscar os olhos. Estava atormentada com o fato dessa nota valer tanto. Não agüentou, levantou-se e foi até o computador.
Elas teriam que pesquisar algo local para conseguir algo concreto e pouco desafiador.
Joyce ficou um bom tempo pesquisando por algo e pensando sobre como elas iriam fazer o trabalho e sobre que mídia iriam usar. Vídeo era muito complicado e trabalhoso demais. Elas ficariam mais preocupadas em emprestar uma câmera, comprar fitas, que batom usar e não iria sair um resultado tão bom. Slide é muito cafona para um trabalho tão valioso. Pesquisa é algo muito quadrado e as limitava no modo de escrever. Nenhuma delas tinha um aparelho de gravador, sem contar que era capaz de todos dormirem escutando... Portanto o melhor modo seria o texto.
Ela continuou pensativa até que se deparou com uma notícia que lhe pareceu interessante. Uma notícia do jornal daquela mesma cidade de dois anos atrás.

Assassinatos e desaparecimentos em casa misteriosa.

Essa semana duas pessoas desapareceram da casa número cinqüenta e oito da Rua Piracicaba. O casal comprara a casa onde três outras pessoas também desapareceram há seis meses e logo depois tiveram seus corpos encontrados dentro da parede.
“Parece ser um trabalho de um assassino serial” comenta o detetive Henrique, 35. “O mais estranho é que todos foram encontrados sem os olhos e também não foram encontradas digitais nas vítimas”, completa.
O caso também conta com mais um assassinato, o primeiro deles, quatro anos atrás onde a vítima, Alice Bernardini, também fora morta e encontrada em uma das paredes, do mesmo modo que as vítimas posteriores. Seu namorado, Guilherme Brentano, está desaparecido até hoje e o caso continua em aberto.

Joyce sorriu. Ela encontrara definitivamente algo interessante.

No intervalo as quatro foram lanchar juntas, e foi quando Joyce falou sobre o artigo que encontrara durante á noite.
Sentaram-se no banco em frente á quadra, cada uma com um pirulito, que mais ficava em suas mãos.
- Eu encontrei um tema interessante ontem á noite. – Joyce comunicou.
- É bom que seja muito interessante mesmo. – Jéssica reclamou.
Joyce balançou a cabeça positivamente e retirou de seu bolso três papeis dobrados e entregou um a cada uma. No papel estava impressa a notícia.
O silêncio permaneceu até que acabaram de ler.
- Mas é do jornal daqui! – Giovanna exclamou.
- Exatamente! É muito mais fácil pra gente fazer uma pesquisa a fundo se for por perto. – Joyce explicou.
Giovanna mostrou um largo sorriso de orelha a orelha.
- Você é muito esperta! – elogiou.
- Na casa da Ariel podemos planejar como iremos entrar em contato com o Henrique e quando vamos para a casa tirar fotos e tudo mais. – Joyce sugeriu.
Todas as outras concordaram enquanto o sinal que anunciava a próxima aula soou. Todas jogaram os pirulitos quando passaram pelo lixo e seguiram para a classe.

Assim que as aulas acabaram e todas as salas esvaziaram, o quarteto seguiu para a casa de Ariel, todas animadas com a idéia de Joyce.
- Nossa... Vocês duas moram tão perto! – Giovanna comentou.
- É, notamos isso ontem. – Joyce lembrou.
Uma leve garoa tomou as ruas, mas foi graduavelmente aumentando. Elas andavam o mais depressa possível para chegar até a casa de Ariel.
Assim que chegaram, entraram rapidamente. Jéssica deixou escapar um espirro assim que entrou.
- Oi pai! Estamos aqui! – Ariel alertou.
Era um lugar aconchegante. Tinha até uma lareira no meio da sala, que era toda decorada em azul e branco. Havia um quadro com a figura de uma lagoa acima de um sofá recostado á parede. Também havia uma coleção de três espingardas acima de um outro sofá em frente á porta de entrada.
Não demorou muito e as garotas convenceram ao pai de Ariel deixá-las usar a lareira.
Todas se sentaram em frente ao fogo e começaram a falar sobre o trabalho.
- Todas já sabem que estamos falando de um trabalho muito sério? Certo? – Giovanna perguntou, sendo seguida por vários “Sim” de diversas formas. – Bom... A história que a Joyce conseguiu está ótima, você sabe o nome inteiro do policial?
Joyce concordou e falou seriamente:
- Henrique Augusto.
- Bom... – Giovanna disse novamente. – Alguém procura falar com ele. Quem se encarrega?
- Eu mesma! – Joyce disse.
- E quem vai até a casa tirar fotos? – Giovanna continuou.
Ariel ergueu a mão direita timidamente.
- Pode ser eu? – perguntou. – Sou modestamente boa com câmeras.
Todas as outras concordaram com a cabeça.
- Agora podemos escolher, Jéssica. Uma de nós tem que pesquisar mais sobre isso no computador e a outra deve ir falar com a polícia.
- Eu pesquiso... – Jéssica concordou.
- Certo pessoal... Que mídia devemos usar? – Giovanna questionou ás outras garotas.
- Eu pensei em fazermos um texto bem legal. – Joyce comentou.
- Todas de acordo? – Perguntou Giovanna.
As duas meninas balançaram a cabeça positivamente e Ariel fez um sinal de “Jóia” com a mão.
- Certo... O que já temos em mão? – Jéssica perguntou.
- Nomes... Só. – Joyce falou.

No dia seguinte, aula normal. Prova de uma das matérias e nenhuma palavra sobre o trabalho. Durante o intervalo elas ficaram falando sobre suas paqueras, seus “ficantes” entre vários outros tipos de baboseira.
Mas, assim que saiu da escola, Ariel resolveu passar na padaria comprar algo para o almoço e passar na loja de câmeras fotográficas da sua mãe, comprar rolos de filme fotográfico para o trabalho.
É claro que existem muitos outros tipos de câmeras fotográficas que não necessitam do filme, mas para Ariel, ver a foto na hora através de uma tela não tinha a menor graça. O que ela mais gostava em tirar fotos era o suspense da revelação.
Como sua mãe, Rosa, montara uma loja de artigos para fotografia, ela continha três tipos de câmera: uma meio antiga, com revelação á filme; outra com filme instantâneo e uma digital. Para o trabalho ela pretendia usar a de filme e a digital, só para caso de emergências.
Andava pela rua com a cabeça erguida e com um leve sorriso estampado em sua face.
Assim que chegou á loja, pegou dois rolos de filme atrás do balcão. Uma mulher entrou na loja naquele exato momento. Sua mãe deveria estar revelando algumas fotos.
- Oi! Viu... Você poderia me dizer se...
Ariel assustou-se.
- Ah... Eu... Eu não trabalho aqui e... – respondeu.
- Não... Eu queria saber se você tem uma câmera do tipo HP 2005 com um chip Sleam Dreams embutido e com lentes HDO...
Ariel notou algo errado.
- O que você realmente quer aqui?
A mulher começou a baixar o tom de sua voz, até se transformar em um sussurro.
- É que eu quero que você reforme essa foto da minha mamãe... Ela está doente, está lá fora esperando eu comprar uma câmera e eu queria fazer uma surpresa. Ela diz que há fantasmas por todo lado na foto... E realmente a foto está manchada... Será que você?...
Ariel entendeu na hora. Ela fizera um curso sobre tratamento de foto há pouco e saberia o que fazer. A mulher lhe entregou a foto. Ela nem olhou e colocou rapidamente no “scanner” do computador para que pudesse trabalhar nela.
- Eu nem trabalho aqui... Essa loja é da minha mãe... – confessou.
A mulher pareceu entristecer.
Ela parecia ser uma pessoa boa, alegre. Tinha em torno dos quarenta e vestia-se toda de verde com um chapéu chamativo lilás. Era magra e usava um batom vermelho, assim como seus cabelos, que eram apenas um pouco mais escuros que os cabelos de Ariel, os fios brilhavam conforme a mulher se mexia. Quando ela falava, mostrava seus dentes enormes e brancos e estava sempre sorrindo, o que deixava suas bochechas muito avermelhadas.
- Mas... Mas você não pode fazer nada? – a estranha disse, sem seu sorriso exuberante.
Ariel balançou a cabeça positivamente enquanto abria a foto. A garota sorriu e disse alegremente:
- Posso fazer sim... E se eu for mais rápida que minha mãe, isso não vai lhe custar nada.
A mulher sorriu novamente.
De repente, Ariel começou a sentir-se mal. Seu sorriso desapareceu assim que olhou para a foto.
Havia uma velhinha no centro dela, sentada em uma cadeira de balanço que aparentava ser tão idosa quanto ela pela cor descascada da madeira. Atrás dela havia uma mesinha com um vaso de flores, e atrás dessa mesinha havia um vulto branco, com o formato de um rosto, que olhava para a senhora de idade.
Ariel gaguejou por alguns instantes, tentava olhar para a mulher que a aguardava por trás do balcão, mas não conseguia desgrudar os olhos daquela imagem enigmática e bizarra.
Rapidamente, a garota começou a trabalhar na foto. Cobriu o vulto com a mesma cor da parede. “Concertou” a cadeira de balanço, deixando-a com um aspecto novo e até amenizou algumas rugas da velha e aumentou o colorido de seus olhos verdes, cansados, agora com um novo brilho.
Assim que terminou o trabalho, em menos de dez minutos, imprimiu a nova foto e a entregou á mulher. Que aumentou ainda mais seu sorriso ao olhar a fotografia.
Com esse mesmo sorriso ela retirou duas notas de cinqüenta reais e as deixou em cima do balcão, sem dizer nenhuma palavra, e foi embora.
Ariel tentou dizer que nem precisava pagar, mas apenas gaguejou algumas palavras que não saíram a tempo da mulher ouvir.
Logo depois, sua mãe saiu da “sala vermelha” e olhou de cima abaixo a garota que segurava duas notas de cinqüenta reais na mão direita.
- O que está acontecendo aqui? – perguntou.
Ariel deixou que escorressem algumas lagrimas belas suas bochechas rosadas e logo depois começou a explicar para a mãe com a voz tremendo:
- Essa mulher veio aqui pedindo ajuda com uma foto... Eu arrumei completamente a foto e disse que ela não precisaria pagar, mas... Estou achando que ela gostou demais do resultado. – assim que terminou a frase, a garota levantou a mão com as duas notas de cinqüenta.
A mãe deu um sorriso.
- Então, esses cem reais vão ficar para você gastar como quiser! – falou.
As duas abraçaram-se e Ariel saiu da loja esfregando as costas de suas mãos sobre suas bochechas.
Assim que saiu na rua, ela viu a mulher vestida de verde que empurrava uma cadeira de rodas. Resolveu chamar. Queria ao menos saber os nomes.
- Ei! Ei vocês! – disse, balançando os braços de um lado para o outro já abrindo um novo sorriso.
A mulher de verde olhou para trás, o que fez Ariel cair no chão de susto. Seu sorriso desaparecera na hora, dando lugar á uma face de espanto e pavor.
Sua boca abria como se fosse gritar. Nenhum som saia.
A boca da mulher...
Sua boca estava costurada com grossos fios pretos e dos buracos que eles abriam em seus lábios, escorria um sangue escuro. Ela estava mais pálida que quando estava na loja e sua pele estava terrivelmente seca.
Ariel gritou.

Joyce não demorou muito para encontrar o telefone do investigador Henrique. Acabara de chegar da escola, portanto nem tirara o uniforme ainda, apenas pegou a lista telefônica, encontrou o número, o anotou em um pedaço de papel e então foi tomar banho.
A água quente caía sobre seu rosto enquanto ela ensaboava o próprio corpo com um sabonete azul. Foi quando percebeu algo errado sobre a entrega do trabalho. Por que eles dariam tanto tempo assim? Será por valer uma nota tão alta? Se fosse... Era para o inicio do próximo bimestre.
Inicio.
A prova do bimestre atual que valeria trinta por cento da nota, segundo alguns professores.
Eles vão mudar a data de entrega para pegar os alunos de surpresa!
Uma maldade... Mas é o que pretendem fazer.
Joyce terminou o banho rapidamente, colocou uma blusa branca, sem mangas e meio larga, uma calça jeans e seus velhos tênis de corrida. Assim que terminou de se vestir, foi para seu quarto e pegou, ao lado do computador, seu telefone sem fio, onde discara o número de Giovanna.
Chamou por um tempo e depois de mais ou menos vinte segundos, alguém atendeu.
- Oi? Quem fala? – Joyce perguntou.
- Giovanna. Com quem deseja falar?
- Sou eu! A Joyce!
- Oi! Tudo legal aí com você?
- Ah! Eu estou bem... – ela falou desanimada.
- E com o trabalho? – a voz de Giovanna estava com um tom de preocupação.
- Nada muito bem... Era pra falar sobre isso que te liguei! – Joyce disse, enquanto ia para a cozinha vasculhar os armários.
- Me conte! O que aconteceu?
- É certeza. Os professores vão mudar o dia da entrega. Eles vão adiantar o dia.
Giovanna fez um som de confusão. Engasgou-se com algo.
- Você está bem? – Joyce perguntou.
- Estou sim... Me engasguei com a água. – suspirou, retomando o fôlego e continuou logo depois. – Me conte essa história direito!
Joyce parou de olhar os armários e sentou-se em uma cadeira, preocupada.
- O professor falou que o trabalho era pro inicio do bimestre que vem... Certo?
- Sim, sim... E...
- Acontece que a prova desse bimestre tá valendo trinta por cento da nota!
Giovanna entendeu na hora. As duas ficaram em silêncio por um longo minuto.
- Eu ligo avisando a Jéssica e você avisa a Ariel... Pode ser? – Giovanna sugeriu.
- Pode sim! Temos que nos apressar... Devemos aumentar o ritimo do trabalho para conseguirmos terminar antes da semana de entrega!
- É... Primeiro o dever... Depois a diversão...
- Tchau... – Joyce se despediu
- Até.
Assim que apertou o botão que desligava o telefone, a garota pegou dois pedaços de pão e fez um rápido sanduíche de presunto e queijo, do qual já mastigava uma mordida enquanto discava o número de Ariel.
Chamou por um longo tempo e logo depois caiu na secretária eletrônica. Joyce resolveu ligar mais tarde. Terminou o sanduíche e pegou o papel onde estava anotado o número de Henrique.
Discou. Chamou por pouco tempo e alguém atendeu.
- Oi? Quem fala? – Joyce cumprimentou.
- Oi... Aqui fala Ângela.
- Eu gostaria de falar com Henrique Augusto.
Joyce sentiu desconfiança por parte do silêncio em que a mulher permaneceu por certo tempo.
- O que você quer com ele? – Ângela perguntou.
- São algumas perguntas para um trabalho sobre uma investigação dele.
- Ele não está interessado...
- Por favor... Esse trabalho vale setenta por... – a mulher desligara.
Assim que Joyce apertou o botão que desativava a ligação, o telefone tocou. A garota atendeu.
- Oi?
Silêncio.
- Oi... Quem está falando?
Joyce desligou e olhou o número do telefone de quem ligara por ultimo para saber quem era. Desconhecido. Ela não sabia de ninguém com aquele número. Resolveu anota-lo de qualquer maneira.

Água com açúcar, alguns carinhos da mãe, sentada em seu velho sofá laranja atrás da loja. Ariel começou a se acalmar do susto. Será que o que vira era verdade?
A estranha simplesmente virou-se e saiu andando até desaparecer em meio á multidão. A garota não conseguia entender isso.
Rosa conseguira acalma-la com muita paciência. A sorte das duas era a falta de movimento na loja, que naquele momento caíra muito bem.
- Eu não quero esses cem reais... – Ariel resmungou deixando o copo vazio nas mãos de sua mãe.
- Tudo bem... Já está se sentindo melhor?
A garota balançou a cabeça carinhosamente e a tombou nos ombros da mãe. Sentia seu rosto e suas bochechas muito quentes, devia estar corada.
Fechou os olhos. Adormeceu.

Acordou com um leve barulho. Não parecia ter dormido muito. Olhou para o relógio no alto da parede. Passaram-se três horas desde que chegara à loja.
Ariel resolveu ir para sua casa, dormir, ao invés de ir tirar as fotos. Seu celular vibrou em seu bolso.
- Alô? Quem é?
- É a Joyce...
- Oi! – Ariel cumprimentou.
- Liguei para avisar que é pra você dar uma acelerada nas fotos...
- Por quê?
A voz de Joyce parecia um pouco aflita, mas ao mesmo tempo, ansiosa.
- O dia da entrega vai ser surpresa por que...
A garota interrompeu a amiga. Estava muito chocada ainda para ouvir explicações mirabolantes.
- Não precisa explicar... Eu confio em você! Você é a loira mais inteligente da escola...
- Ah... Nem sou tão loira assim!
Ambas riram.
- Mais alguma coisa? – Ariel perguntou.
- Não... Foi só para dar uma acelerada em você mesmo...
- Então thau... Quero ir pra casa dormir mais um pouco.
- Ah... Ok... Thau...
Ariel lembrou-se da foto sinistra.
- Espera! – falou, levantando-se do sofá em um pulo.
- Fale...
- Vou te enviar um e-mail com uma foto sinistra de uma cliente aqui da loja...
- Você está na loja?
- Estou.
Ariel foi andando depressa te o computador. Enviou a foto para o computador de Joyce e imprimiu uma unidade para ela mesma.
- A filha dessa mulher na foto pediu para que eu retirasse o fantasma dessa foto... Logo depois que ela saiu da loja, eu sai também... Mas então eu vi que elas estavam ainda nessa mesma rua. Chamei por elas e então...
Ariel ficou muda.
- O que houve?
- Elas estavam diferentes... Pálidas... Foi horrível... A boca da filha estava costurada... – a garota choramingou.
- Credo! É verdade?
Ariel deu um gemido choroso como resposta e logo depois falou:
- Preciso ir para minha casa descansar.
- Quer que eu vá até aí na loja de sua mãe te buscar? Não é longe né?
- Quero sim... Não é tão longe da sua casa... É só andar três quadras em linha reta á direita da sua casa e você já encontra a loja. É aquela loja amarela que a gente passou em frente...
- Tá... Me espere aí!
Desligou.
Ariel deitou no sofá esperando pela amiga, que chegou vinte minutos depois, quando a garota já estava quase pegando no sono novamente.
Ela teve que contar a história novamente á caminho de sua casa e Joyce, por sua vez, explicou o porquê do adiantamento do trabalho.
Assim que alcançaram o portão da casa de Ariel, as duas pararam de andar.
- Está entregue... – Joyce falou, com um leve sorriso em seu rosto.
A outra garota balançou a cabeça positivamente depois de retirar um molho de chaves de seu bolso.
- Nos vemos amanhã na escola então? – Ariel perguntou, despedindo-se.
- Sim... Você não quer que eu vá com você tirar as fotos na casa depois de amanhã?
A garota ruiva sorriu e logo depois balançou a cabeça positivamente.
Despediram-se sem dizer nenhuma palavra, apenas com sorrisos e balançando suas mãos.
Ariel pegou seu molho de chaves, procurou por uma verde e abriu o portão de sua casa. Assim que entrou, foi direto ao seu quarto, onde vestiu seu pijama, deixou suas roupas em um cesto no banheiro e se deitou. Pegou seu relógio despertador e o ajustou para que a acordasse seis horas da manhã.
Que impressão era aquela que havia algo a mais no quarto?
Seus olhos começaram a ficar pesados.
Baque.
Ariel levantou-se em um susto.
Que barulho fora aquele vindo da parede? Ficou em silêncio por algum tempo para ver se ouvia alguma coisa. Nada. Deitou-se novamente.
Adormeceu não muito tempo depois.

O relógio despertador a acordou com seu irritante barulho de toda manhã. Ariel levantou-se em silêncio e apertou o botão que o desligava. Coçou levemente a cabeça e andou até a janela. Abriu-a forçando uma pequena maçaneta em seu meio.
Ainda estava escuro lá fora. A garota resolveu olhar que horas eram. Virou-se para o relógio despertador em cima do criado mudo, que mais parecia uma caixa preta com uma tela verde escuro estampada em frente, ao lado da cama, onde estavam marcados os números vermelhos: 01 hr 37 min.
Ariel estranhou. Não fora esse o horário que ela programara no dia anterior.
De repente, seu celular toca. A garota se assusta e corre busca-lo no bolso de sua calça, que estava amassada em cima do cesto de roupas sujas, no banheiro.
Sua mãe já falara várias vezes para tomar mais cuidado com isso, mas Ariel nunca se lembrara de tirar o celular do bolso na hora de colocar as roupas para lavar.
- Alô?
Sem resposta.
- Alô!
Nada.
Ariel desligou. Olhou-se no espelho. Gritou.
A garota agarrou o celular e saiu correndo para debaixo das cobertas. Ela ligou o aparelho para ver o número do telefone de quem ligara. Era desconhecido. Ariel apertou o botão de re-discagem.
Chamou. Alguém atendeu.
- Oi? – cumprimentou uma voz masculina sonolenta do outro lado da linha. – Quem está ligando há essas horas?
- Foi você que me ligou agora pouco e não falou nada.
De repente o homem pareceu preocupado.
- Vocês não entraram na casa né?
Ariel não entendeu muito bem, mas sabia de que casa ele estava falando.
- Não... Mas quase... – respondeu incerta.
- A gente precisa se encontrar!
- Como assim? - a garota começou a gaguejar, não sabia o que dizer.
- Tem mais alguém que sabe sobre a casa?
- Minhas amigas...
- Preciso que todas venham me ver... Meio dia... No Carlos’s Café Central. Pode ser?
Ariel não entendeu nada. O homem desligara. Ela continuou deitada, mas não dormiu mais aquela noite.

- Juro! Havia alguém atrás de mim no espelho!
Todas estavam sérias. Menos Giovanna, que continha um sorriso estranho em seu rosto.
- É meio difícil de acreditar Ariel... – Joyce falou.
Ariel balançou a cabeça positivamente e continuou contando:
- Eu sei... E depois disso, o celular tocou. Eu atendi, mas ninguém respondeu, logo depois eu liguei de volta e um homem atendeu. Ele perguntou se a gente havia entrado na casa depois que contei que ele tinha ligado no meu celular e não tinha respondido nada. E ele também falou pra gente encontrar ele no Carlos’s Café Central, ao meio dia...
- Isso é... Louco demais. – Jéssica falou, após alguns momentos de silêncio entre as garotas.
- Então vamos encontrá-lo para saber sobre o que se trata. – Giovanna sugeriu.
Todas as outras concordaram com a cabeça e voltaram aos seus lugares, quando o professor voltou para a classe.
Joyce não agüentava mais... Ela tinha de fazer algo... Ela sentia que deveria avisar aos seus outros colegas de classe sobre a data de entrega, ninguém mais parecia saber.
A garota ergueu o braço. O professor interrompeu a explicação.
- Fale Joyce... Qual sua pergunta?
Ela deu um suspiro e começou a falar:
- Quando você vai falar que o trabalho valendo setenta por cento da nota é para esse bimestre? Ou seja, Para daqui três semanas.
O professor assustou-se. Seus olhos se arregalaram. Ele abria a boca como se fosse dizer algo, mas nenhum som saia.
Joyce olhou ao seu redor. Todos pareciam chocados e surpresos com o que a garota falara e ela gostou dos cochichos que começaram a suar por toda a sala.
- Como você chegou á essa conclusão? – Hélio, o professor, perguntara.
- Se aprova desse bimestre vale trinta por cento, por que o trabalho seria entregue no início do bimestre que vêm? Se formos calcular mesmo, teremos duas semanas para fazê-lo! – ela jogou seus cabelos para trás dos ombros. – E isso iria acabar prejudicando as pessoas que não começaram no dia em que você falou sobre o trabalho.
- É mesmo... Isso é injusto! – Jéssica falou, logo depois, dando uma piscadela para Joyce.
O professor parecia não saber o que fazer.
- Nós iríamos esperar uma semana para contar á vocês.
Todos os alunos ficaram bravos com a situação.

Onze horas e trinta minutos, as aulas encerraram-se com o sinal que fez com que todos os alunos saíssem das salas de aula depressa.
As quatro garotas também saíram rapidamente do local, para chegarem á tempo no local combinado pelo estranho, que nem era tão longe da escola.
Durante o caminho não houve troca de palavras entre as amigas, que caminhavam rapidamente sob ameaça de chuva.
A lanchonete era muito bonita e confortável. Continha mesas redondas de pedra e o piso azul, assim como as paredes. Havia um aparelho de ar condicionado atrás do balcão, que também era de pedra e um relógio em cima da máquina de fazer café expresso.
As garotas escolheram a mesa mais próxima da porta de entrada para que ficasse mais fácil para o estranho vê-las. Sentaram-se e esperaram até a garçonete chegar.
- O que desejam?
- Eu quero um suco bem gelado de laranja com acerola... – Giovanna pediu, com um sorriso simpático em seu rosto.
A mulher anotou em um pequeno papel que cabia na palma de sua mão.
- E vocês? – perguntou.
- Quero um pão de queijo e uma xícara de leite achocolatado. – Joyce pediu.
- Eu quero um pedaço de torta de chocolate. – Jéssica falou, coçando seus cabelos escuros com a ponta dos dedos.
- E você garota? – a garçonete perguntou.
Ariel não ouvira. Olhava fixamente para um homem, que comia um sanduíche enquanto lia jornal do outro lado da lanchonete. Ela tentava ler o que dizia o título da manchete principal.
Investigador...
- O que você quer garota?
Desaparecido...
- Ei! – Todas as outras garotas falaram em conjunto.
Ariel levantou-se e foi até o homem.
-Ei... Senhor...
Ele colocou o sanduíche em seu prato e olhou para ela.
- Pois não?
- Posso dar uma olhada em seu jornal? – a garota pediu.
- Pode... – o homem disse, entregando as folhas acinzentadas nas mãos de Ariel.
A garota leu por alguns minutos e logo depois levou a mão à boca, abafando uma exclamação.
Devolveu o jornal para o homem agradecendo, séria e voltou para junto das amigas.
- Não temos mais o que fazer aqui... – falou.
- Do que você está falando? – Giovanna perguntou.
Ariel começou a estremecer dos pés á cabeça. Ela mal conseguia pronunciar as palavras.
- O homem que viemos encontrar aqui desapareceu pela madrugada de hoje.
- Mas... Você não disse que não sabia quem ligou? – indagou Joyce, desconfiada.
- Será que é tão difícil de ver assim? Quem ligou foi o investigador Henrique... Aposto como era ele que viemos encontrar.
Joyce agarrou o celular e discou o número do telefone que pegara. Chamou. Alguém atendeu. A mesma mulher com quem falara da ultima vez.
- Alô? – a mulher cumprimentou.
- Oi... Preciso só saber uma coisa... Você me responde com sinceridade?
- Quem está falando?
- A mesma garota que ligou para você esses dias... Henrique costumava vir á um lugar chamado Carlos’s Café Central?
A estranha chocou-se com a pergunta.
- Ele tomava café da manhã todos os dias aí... – a mulher respondeu com voz de choro e logo depois desligou.
Joyce levou o celular ao colo e o segurou com as duas mãos enquanto falou:
- Era ele mesmo.

O telefone celular tocou, o que fez com que Henrique levantasse da cama em um pulo. Ângela não acordara e continuou com os olhos fechados, em seu lado da cama. Ele pegou o aparelho e atendeu.
- Oi? Quem está ligando há essas horas?
- Foi você que me ligou agora pouco e não falou nada. – respondeu uma fina e assustada voz de garota do outro lado da linha.
Henrique ficou muito preocupado. Como ela soubera sobre Alice?
- Vocês não entraram na casa né? – perguntou.
A estranha pareceu confusa por um instante.
- Não... Mas quase... – respondeu incerta.
Ele tinha de fazer algo... A casa já fizera suas vítimas antes, ele deveria salvar aquela garota, antes que acontecesse o mesmo que houve com seus amigos.
- A gente precisa se encontrar!
- Como assim? - a garota começou a gaguejar, parecia não saber o que dizer.
- Tem mais alguém que sabe sobre a casa?
- Minhas amigas...
- Preciso que todas venham me ver... Meio dia... No Carlos’s Café Central. Pode ser?
Agitado, Henrique desligou sem nem ao menos esperar uma resposta. Ele vestiu as primeiras peças de roupa que encontrou e, em silêncio, deixou o apartamento.
Corria pelas ruas gélidas, sem nem saber o que fazer. Ia para a casa tentar encontrar um modo de pará-la, apesar de imaginar que isso fosse impossível.
Parou em frente ao portão. Fitou-a por longos segundos.
Cedo ou tarde aquilo iria acontecer e ele preferia que acontecesse logo. Não agüentava mais a esconder de Ângela e de sua filha, Carol. Aquela casa...
A mesma casa que matara três de seus colegas de trabalho e desaparecera com mais várias pessoas. Ele tinha certeza. Alice estava lá.
O jardim estava podre. Não havia uma grama que não estivesse estragada. Não havia uma folha sequer nas árvores ao seu redor. Não havia uma vez que Henrique pesasse na casa sem arrepiar-se dos pés á cabeça.
A pintura das paredes já estava começando a descascar-se e o local já estava começando a ficar todo empoeirado.
O portão rangeu alto e agudo quando ele o abriu. A porta estava trancada.
“Aquelas garotas...”
O investigador fizera uma cópia das chaves para ele, as mesmas chaves que estavam em seu bolso e que ele não estava com coragem de pega-las.
“Por que eu entrei nesse caso?”
Caiu sentado, recostado á parede.
“Por que eu entrei nesse caso?”
Choramingava. Era triste o que ia acontecer.
“Por que eu entrei nesse caso?”
Baque.
Henrique levantou-se assustado. O barulho estava vindo de dentro da casa.
Pegou as chaves e abriu a porta. Entrou.
“Alice...”
Ele foi andando vagarosamente pelo corredor. Até chegar á cozinha, cuja parede que a dividia da sala, estava toda destruída.
“Tomara que não façam um museu ou qualquer outra coisa pública aqui dentro!”
Baque.
O barulho vinha do segundo andar da casa.
Ele voltou á sala, com uma velha cadeira de balanço, dois sofás de cor mostarda, uma mesinha com um vaso em seu centro e uma escadaria para o segundo andar, com os quartos. Henrique subira. O andar de cima era um simples corredor pequeno com duas portas. Ambas levavam á quartos.
Baque.
O investigador entrou no quarto de onde vinha o som. Os móveis já nem estavam lá. Apenas restava o piso empoeirado e o guarda-roupas desmontado, no chão.
Baque.
Algo cai do teto. Henrique grita. Era ela.
Ela começa a se levantar. Seus cabelos negros escondiam sua face. Sua carne estava apodrecida, azulada.
O homem sai correndo. Não havia como pará-la, ele tinha certeza.
“Pobres garotas...”
Seus olhos estavam ardendo. Ele os esfregava. Coçava. Com as unhas.

Giovanna estava em frente á delegacia, segurando seu bloco de anotações, preparada para fazer várias perguntas.
Ela deu um leve suspiro e entrou.
Havia um balcão de madeira, logo na entrada, e nele havia um computador. Atrás desse balcão estava um policial gordinho, com seu uniforme azul-marinho e um distintivo dourado com o simulo da polícia em seu ombro direito. Tinha ventilador de teto girava, fazendo um estranho barulho parecido com um gemido.
A garota entrou e foi logo falando com o policial:
- Oi? Tudo bem?
Ele estranhou, mas mesmo assim respondeu:
- Tudo bem sim... O que você deseja?
Giovanna jogou os cabelos para trás e retesou o papel de anotações, colocando-o mais próximo de seu peito.
- Eu gostaria de fazer algumas perguntas sobre um caso de alguns anos atrás. – falou.
- Me desculpe senhorita, mas não podemos revelar quaisquer detalhes sobre o que aconteceu.
- Mas é para um trabalho de escola muito, muito, muito importante... Por favor?
- Por acaso não seria aquele trabalho que vale setenta por cento da nota de meia dúzia de matérias é? – o policial perguntou risonho.
- É sim, mas como você sabe sobre este trabalho?
- Minha filha estuda na mesma escola que você. Provavelmente.
- Então... Não tem mesmo como você me passar tais informações?
Ele balançou a cabeça negativamente. Giovanna bufou, mas teve uma idéia de como conseguir os arquivos.
- Então... Vou indo... – disse, com voz triste e saindo do local.
Passou na locadora, onde pegou três filmes para passar a tarde. Dois deles eram de horror, e o outro era uma comédia.

Jéssica estava há meia hora pesquisando, mas não conseguira encontrar nada além do que Joyce conseguira. Resolveu deixar de lado para deitar-se um pouco.
Levantou da cadeira, em seu quarto escuro, e quase tropeçou em uma sandália, no chão, a caminho do banheiro, onde pretendia tomar um banho.
Despiu-se e entrou debaixo do chuveiro, de onde escorria uma morna água que embaçava todo o box e o espelho.
Era relaxante.
Após terminar, buscou pela toalha pendurada na parede do lado oposto do chuveiro. Enxugou seu rosto para que pudesse abrir os olhos. Desligou a água com certa dificuldade devido ás mãos molhadas e escorregadias.
Terminou de se secar e foi até o quarto vestir seus pijamas.
Alguém toca a campainha e, terminando de colocar a blusa, ela vai buscar as chaves da casa na gaveta de sua escrivaninha.
A campainha é tocada novamente.
Jéssica corre até a porta e espia pelo olho mágico. Não havia ninguém.
A garota dá as costas para ir para sua cama. A campainha é tocada. Ela assustou-se.
- Quem será que está me enchendo? – reclamou.
Ela olhou pelo olho mágico novamente. Gritou. Caiu no chão.
Uma mulher, com os cabelos escondendo seus olhos, a pele azulada e uma camisola branca.
- QUEM É? – gritou.
Levantou-se do chão e abriu a porta. Olhou para os dois lados do corredor. Não havia nada, nem ninguém por lá.
Jéssica entrou, trancou a porta com a chave e foi correndo pegar seu telefone. Discou o número do celular de sua mãe. Chamou por um tempo até que alguém atendeu.
- Olá?
-Mãe?
- Fale querida... – a mãe respondeu, com um tom de preocupação em sua voz.
- Não tem como você chegar em casa mais rápido?
- Eu já estou á caminho... Por quê?
- Estou com medo. – chorou.

O sinal para o intervalo ecoou por todas as salas, o que fez os alunos saírem imediatamente para o pátio. Apenas sobraram as quatro garotas dentro da sala de aula.
- Eu estou com medo desse trabalho... – Jéssica admitiu.
As outras se espantaram com o que ela falara. Ariel entendeu que fora esse o motivo de seu silêncio na entrada e durante as aulas.
- Eu também. – Ariel disse, colocando uma goma de mascar em sua boca.
Giovanna balançou a cabeça negativamente e logo depois falou:
- Ah! Parem com isso! É só um trabalho idiota...
- Um trabalho idiota que está nos deixando com muito medo! – Joyce completou.
Ariel saiu da classe e foi seguida pelas outras, todas se sentaram no primeiro banco que viram.
- Eu sei que fiquei encarregada de tirar as fotos. Mas não vou lá sozinha de jeito nenhum! – falou.
- Eu disse que ia com você. – Joyce retrucou.
- É... Mas quero que todas nós entremos juntas lá!
Giovanna abriu a boca como se fosse reclamar do pedido de Ariel, mas foi parada por um olhar de Joyce.
- É... Vamos... – Jéssica concordou.
- Pode ser. – Giovanna respondeu, dando de ombros.
- Então está combinado! Amanhã. – confirmou Joyce, coçando os cabelos com as pontas dos dedos.
“O que há de errado com essa casa?” Ariel pensou.

Aline já estava pesquisando sobre Jack, o assassino serial famoso, há horas em seu computador. Coletava as informações cuidadosamente pelo valor do trabalho.
Seu grupo decidira fazer um filme sobre Jack, um filme cinematográfico contando um pouco sobre ele e para o final, estava decidido que haveria uma morte, como clímax.
Tinham pouco tempo, portanto, conforme ela lia, já ia separando algo concreto para o trabalho e esperava que os outros integrantes do grupo estivessem fazendo o mesmo naquele momento.
Suas pálpebras começaram a ficar pesadas e uma imensa vontade de dormir lhe chegou á cabeça.
Não. Não poderia dormir. Levantou-se da cadeira e foi até a cozinha. Bebeu um copo de água gelada de uma jarra tirada de dentro da geladeira. Foi para o banheiro, onde colocou as duas mãos em forma de conchas em frente á pia aberta, enchendo-as com água e logo depois, lavando sua face.
Voltou para o computador. Continuou pesquisando sobre Jack. A campainha toca.
Aline vai atendê-la. Caminha rapidamente para o quarto de sua mãe adormecida, vasculhando o guarda-roupas em busca da bolsa com a chave do apartamento, caso tivesse que abrir a porta.
Assim que a encontrou, abriu o zíper e de dentro retirou o molho de chaves.
Foi até a porta rapidamente e inclinou-se para espiar o olho mágico.
Gritou.
Havia cinco pessoas lá fora. Três mulheres e dois homens, uma delas, sentada em uma cadeira de rodas. As outras duas estavam de pé, com os rostos cobertos pelos cabelos. Os dois homens escondiam suas faces com as mãos enquanto coçavam as pálpebras com o dedo indicador e o dedo do meio e esfregavam seus mindinhos na boca, com as mãos todas sujas de sangue. Os cinco tinham a pele pálida, azulada, com as veias bem á mostra.
Aline continuou gritando, tomando fôlego para gritar novamente. Caiu com as costas no chão. Balançava sua cabeça sem parar.
Regiane, sua mãe, veio ao seu encontro, correndo, ajoelhou-se no chão ao seu lado e a abraçou.
- Já passou querida... Já passou... Me conta o que aconteceu.

Quem eram aquelas pessoas?
Aline esforçou-se para tomar o café da manhã, mas acabou apenas tomando o leite achocolatado. Não parava de pensar no que acontecera.
Foi até a escola de carona com sua mãe, que trabalhava lá perto e assim que chegou, andou direto para o pátio, onde Carol e Thomas, seus melhores amigos, lhe aguardavam.
- Oi Aline... Nossa! Parece que alguém não dormiu muito bem! – Carol cumprimentou a amiga, que se sentava ao seu lado.
- Eu não dormi muito bem não... Eu simplesmente passei a noite toda acordada sem pregar os olhos! – a garota respondeu séria. – Aliás, dormi sim. Por dez minutos. Acordei logo em seguida com um pesadelo.
- Credo! Mas o que aconteceu? – Thomas perguntou.
Aline não queria falar sobre aquilo, mas resolveu contar.
- Eu estava pesquisando pro trabalho quando, de repente, a campainha tocou. Eu peguei as chaves na bolsa da minha mãe e fui ver quem era.
- E? – o amigo caçoou.
- Quando olhei no olho mágico, vi cinco pessoas, dois homens e três mulheres. Não sei explicar, mas eles eram fantasmas.
Os outros dois ficaram confusos.
- Fantasmas? Como assim? – perguntou Carol, já se preparando para entrar na sala de aula.
- Corpos azulados, sangrando, com cabelos em cima dos olhos. Horrível! – Aline começou a choramingar e seus olhos se encheram de lágrimas de desespero. – E tinha uma delas que estava em uma cadeira de rodas. – continuou.
- Ué, vai ver era a família do Peter querendo te conhecer! – Thomas riu.
- Eu não estou brincando! – Aline gritou. – Você pensa que eles não existem? Espere só se fizerem uma visitinha em SUA casa! Quero só ver você caçoar!
- Calma Aline! – Carol acalmou. – Estão todos olhando!
A garota olhou ao seu redor, todos mantinham seus olhos nos três. Thomas saiu de perto das duas, risonho e ficou em frente á porta da sala de aula esperando.
Já estava na terceira aula, todos apenas pensavam no trabalho desde que Joyce revelara que sua data seria adiantada.
Thomas não parava de pensar no modo que sua amiga agiu quando ele brincara com ela sobre aquela história de fantasmas.
De repente alguém bate na porta.
A professora levantou os óculos, parou com o ditado e falou para o garoto:
- Thomas, abra a porta, por favor?
Ele sentava quase em frente á porta. Levantou-se de sua carteira e foi seguido pelos olhos de metade classe, pois o resto ainda fazia anotações.
Abriu a porta. Tentou gritar, mas o som não saia. Seu corpo não dava nenhuma resposta. Ele ficara parado, ali, olhando para aquelas cinco pessoas que estavam em sua frente.
Aline desviou a atenção de seu caderno para olhar o que estava acontecendo. Gritou. Levantou-se rapidamente, empurrando sua carteira de modo que a maioria de suas coisas foram derrubadas.
Correu até Thomas e fechou a porta antes de cair com as costas para o chão. Olhou para o amigo, que continuava em estado de choque e disse:
- Eu disse. – sua voz tremia.
Os outros alunos riam, a não ser por Joyce, Ariel, Giovanna, Jéssica e Carol.

As três garotas haviam combinado para que se encontrassem na esquina da casa, Jéssica foi a primeira a chegar. Esperou por mais cinco minutos até que Giovanna chegou.
- Olá! – as duas se cumprimentaram ao mesmo tempo.
- Eu falei com a Clarisse hoje, para ver se ela trabalhava com gente e ajudava a encontrar os arquivos da casa no trabalho do pai dela... – contou Giovanna
- No que deu? – Jéssica perguntou.
- Nada feito, ela não topou ajudar. Mas eu vou falar com o Thomas pra ver se ele faz esse favor.
- Mas e se o irmão dela não aceitar também?
- Eu posso seduzir ele... – Giovanna riu.
Ariel chegou.
- Oi pessoal. – cumprimentou, desanimada.
As outras duas fizeram um sinal com a cabeça.
- Eu tenho certeza que a Aline e o Thomas viram alguma coisa! Tenho certeza que tem a ver com a casa!
- Nossa! Que mania de perseguição com essa casa! – Giovanna falou, rindo da amiga.
Ariel não falou nada, apenas ficou séria.
De repente Joyce chega.
- Tem algo de estranho acontecendo! – falou.
- Oi primeiro né? – cumprimentou Giovanna.
- Decidi não falar nada na escola, mas o que aconteceu com o Thomas e a Aline foi muito estranho!
- Você também? – reclamou a amiga.
Jéssica parecia afobada. Virou-se para as outras e falou séria:
- Vamos entrar ou não? Quero só terminar esse trabalho logo e esquecer tudo o que aconteceu!
- Certo... – Ariel concordou, pegando sua câmera firme, com as duas mãos.
As quatro caminharam até o local, cujo portão estava entreaberto.
- Alguém esteve aqui! – Joyce falou incerta.
Elas ficaram se encarando por um longo minuto. De repente Joyce sai do circulo repentinamente e atravessa o portão, quase correndo.
- Joyce? O que você vai fazer? – Ariel grita enquanto vai atrás da amiga.
As outras duas as seguem.
Ariel entra na casa. Diminui o passo. Grita.
Era a mesma sala da fotografia.
Giovanna e Jéssica entram, quase trombando com a garota. Joyce estava ajoelhada ao chão, com as mãos tampando o rosto.
Havia sangue por todo o chão. Menos nas paredes onde o sangue se interrompia.
- Joyce? Você está bem? – Giovanna perguntou, andando até a amiga.
- Tem... Tem algo dentro da parede...
Giovanna olha para Jéssica.
- Nós temos que chamar a polícia... – Ariel choramingou.
- Não! – começou Joyce. – Não podemos envolver mais ninguém!

“Ao menos uma boa notícia!” Pensou Jéssica, ao abrir sua caixa de correio em frente ao portão. Sua encomenda chegara. Uma webcam.
Assim que pegou o pacote todo amarelo, foi o mais rápido o possível para seu quarto, testa-la. Ligou o computador e conectou-se á internet. Para sua sorte, poderia testar a webcam com Giovanna, que também estava conectada.
“Chegou a cam!” disse Jéssica, pulando as apresentações.
“Não acredito... Já instalou?” a amiga perguntou, com grossas letras cor-de-rosa.
“Já sim. Queria testar com você! Pode?”
Giovanna concordou.
Jéssica ligou o aparelho apertando um “botão” na tela do computador, assim, mostrando um grande quadro com a imagem de Giovanna e outro menor, onde a mostrava.
A amiga ligou o microfone.
- Nossa! Que demais!
- Nem fale! – Jéssica riu.
- Ao menos algo legal hein! Mas mesmo assim é impossível esquecer o que aconteceu. – Giovanna falou séria.
- É...
- Vou beber água e já volto. – A amiga falou.
Pela tela, Jéssica viu Giovanna levantando-se da cadeira e saindo por uma porta á sua direita. Era possível ver um guarda roupas ao fundo.
Ficou esperando.
De repente a porta no quarto de Giovanna se abriu vagarosamente. A amiga entrou no quarto e caiu em frente ao guarda-roupas.
Jéssica gritou olhando para a imagem na tela de seu computador.
- Gio? Gio!
Viu uma mulher entra pela porta do quarto de Giovanna. Com os cabelos em frente ao rosto, a pele toda azulada e um vestido branco, todo manchado de sangue.
Jéssica tenta desligar o computador.
Mancando, a mulher começa a andar em direção á câmera. A tela onde mostrava as imagens enviadas pela câmera de Giovanna começa a entrar em estática. Jéssica se afasta do monitor, do qual a estranha parecia ficar mais próxima a cada passo.
A garota puxa o fio da tomada, mas o aparelho continua ligado por alguns instantes, enquanto a mulher no quarto de Giovanna continuava a se aproximar.
Gritou.
O computador desliga.
Com a respiração ofegante, Jéssica abre a porta para sair do quarto.
As oito pessoas, todas olhando para a ela.

Ariel começou a chorar quando viu Giovanna, toda vestida de azul claro, com os cabelos despenteados e enormes olheiras, deitada em uma cama com lençóis da mesma cor de sua roupa, ao lado de um aparelho que a mantinha respirando, em sua coma.
“Por que não mataram Giovanna?” se perguntava enquanto abraçava sua mãe, no corredor do hospital, em frente á uma vidraça por onde observavam a amiga.
Joyce entrou pela porta. Foi correndo ver a amiga pela mesma vidraça que Ariel a observava. Assim que viu, levou a mão á boca.
- Ariel... São eles... – comentou sussurrando.
A mãe da garota não entendeu, mas nem questionou.
Joyce olhou para Ariel. Elas tinham que ir até a casa de Giovanna e Jéssica para saber o que aconteceu.
Começara a chover novamente. Jéssica era considerada desaparecida. Não haveria enterro ela, mesmo que Ariel e Joyce soubessem de sua morte, a mãe de Jéssica e os investigadores não encontraram corpo algum, mas as duas garotas eram certas do falecimento de sua amiga.
Rosa retirou um guarda-chuva preto de sua bolsa e o abriu antes de sair do hospital.
As duas despediram-se, ambas chorosas.

Aline não sabia por que aquelas pessoas estavam aparecendo diante de seus olhos. Não sabia o que fazer a respeito disso. Ficara na diretoria naquele dia durante meia hora, enquanto o diretor tentava descobrir o que acontecera.
Passaram-se dois dias desde então e ela não trocara uma palavra com Thomas.
Faltavam dois minutos para bater o sinal. Ela correu beber água, sua garganta estava seca.
Lá estava ele no bebedouro... Aline o ignorou, entrou na fila para beber a água mesmo assim. Quando Thomas virou-se para sair, a viu. Andou até ela.
- Eu sei por que isso tá acontecendo com a gente. – o garoto falou.
Aline saiu da fila, o agarrou pelo braço e levou até a quadra que já estava quase vazia.
- Explica! Rápido! – exigiu.
- Sabe... O grupo da Joyce e da Ariel?
- Sei.
- Elas me pediram pra que eu entrasse no trabalho de meu pai e xerocasse uns arquivos confidenciais sobre uma casa... – ele contou.
- E?
- E... E que nessa casa morreram aquelas pessoas que a gente tá vendo!
Aline ficou muda por um tempo. O sinal soou.
- Vamos... O sinal bateu... – de repente ela começa a chorar. – O que nós vamos fazer?
A garota caiu no chão, sentada. Thomas ajoelhou para ajudá-la a se levantar.
- Nós vamos dar um jeito... Só espero que o grupo delas esteja bem...
Aline enxugou as lágrimas e entrou junto á seu amigo, dentro da sala de aula, onde estavam faltando cinco pessoas: Jéssica, Giovanna, Joyce, Ariel e Carol.
Quando os dois viram a falta das colegas, se entreolharam.
Algo acontecera.
O professor entrou na sala de aula com a face muito triste e cansada, pela primeira vez, sem óculos.
Ele coçou os olhos com o indicador e o dedão e com a voz trêmula anunciou para a classe:
- Tivemos hoje, uma notícia muito ruim... Péssima... Carol e Jéssica estão desaparecidas... Giovanna está no hospital, internada em estado grave de problemas mentais.
Aline levou as mãos á boca de espanto. Mal conseguia respirar.
- Carol... Onde você está? – chorou a garota, que deixou o sala de aula, seguida por Thomas, ambos em estado de choque.
Ela sentou em um dos bancos rapidamente e retirou o celular do bolso, discando o número da amiga.
- Aline! – ele gritou. – Aline!
O garoto sentou-se ao lado da amiga, que desesperada, chorava, com a orelha, grudada ao telefone móvel.
- Aline... – ele conseguiu dizer.
- A Carol não está bem, Thomas... Eu tenho certeza que algo aconteceu com ela!
O celular chamou.
Chamou.
Alguém atendeu.
- Alô... Carol? – Aline falou, quase gritando.
Um estranho barulho começou a sair do aparelho. Um barulho de alguém mastigando com a boca aberta ou então, alguém que apalpa carne crua.
A garota começou a chorar. Jogou o celular para longe, onde se espatifou na parede e caiu, á alguns centímetros de sua bateria, quebrado no chão.
O barulho continuava cada vez mais alto.
Thomas abraçou Aline, ela olhou para seus olhos. Gritou.
Ele estava como uma das pessoas que ela vira. Sem os olhos.
Gritou novamente, saiu correndo.
Foi para a biblioteca, onde supôs que houvesse uma classe, escolhendo livros. Entrou.
Não havia ninguém. Apenas silêncio. Aline começou a correr por entre as prateleiras esperando encontrar a bibliotecária.
Parou. Sua respiração estava pesada.
O barulho de carne recomeçou atrás da prateleira onde estava recostada. Ela se afastou.
Olhou no vão que a fileira de livros deixava.
Doze pares de olhos a observavam.

Gabriel tentava se concentrar na aula, mas desde a notícia que suas colegas estavam desaparecidas, ninguém conseguia mais prestar atenção, todos inquietos, até mesmo os professores.
Ele segurava a caneta e ás vezes mordiscava a ponta enquanto acompanhava a leitura que a professora fazia, no livro, com os olhos.
“Pobres garotas...” suspirava.
Baque.
Ele se assustou. Olhou ao seu redor e percebeu ter sido o único.
Baque.
Vinha da parede.
Ele se levantou da carteira e andou até o fundo da sala. Vagarosamente, encostou sua orelha á parede gelada.
Baque.
Deu um leve grito grosseiro. Olhou ao seu lado, Bernardo também estava com a orelha colada á parede.
O barulho cessou.
- O que vocês pensam que estão fazendo? – a professora Agatha chamou.
- Eu não estou me sentindo bem... – Gabriel usou como desculpa.
Em passos firmes, o garoto saiu da sala de aula.
Atravessou parte do pátio até chegar ao bebedouro. Tomou dois goles de água e entrou no banheiro, logo ao lado. Havia uma pessoa lá dentro, apenas um garoto que acabara de lavar as mãos para sair.
Gabriel curvou-se á pia em frente ao espelho para lavar o rosto. Formou as duas mãos em concha e as encheu de água. Fechou os olhos. Limpou o rosto. Abriu os olhos. Olhou para o espelho.
Havia treze pessoas que o encaravam através do reflexo, atrás dele.
Gritou. Virou-se rapidamente. O lugar estava vazio.
“Mas que...?”
Ele saiu do banheiro rapidamente. Atravessou o pátio e sentou-se, afobado, em um dos bancos.
Esfregava os olhos, eles coçavam.
Bianca, sua irmã, saiu da sala de aula e foi em sua direção, sentou-se ao seu lado.
- Está tudo bem? – a garota perguntou.
- Está sim... – Gabriel respondeu incerto.
- O que aconteceu agora pouco na sala de aula? – ela perguntou.
- Eu... Eu não sei. – o garoto gaguejou, ainda coçando seus olhos.
Bianca, carinhosamente, tombou a cabeça dele em seu colo e começou a lhe acariciar os cabelos.
- Os professores estão bem liberais hoje com a gente. – a garota explicou. – Eles sabiam que a notícia ia nos chocar.
- É...
Ele levantou a cabeça. Os dois se abraçaram.
Depois de certo tempo, Bianca se afastou e levantou do banco.
- Me espere aqui... Já volto. – falou.
Foi até o bebedouro e logo depois entrou no banheiro. Gabriel estava com o olhar fixamente parado, olhando para frente.
Três minutos. Cinco. Dez. Ela não voltava.
O garoto continuava estático. Seus olhos coçavam. Ardiam. Ele começou a coçá-los.
Vinte minutos. Bianca saiu do banheiro e voltou ao banco, com o olhar baixo.
- Seus olhos estão coçando? – ela perguntou.
- Demais.
- Os meus também... Mas eles são muito mais fáceis de coçar...
A garota levantou a mão, ensangüentada. Gabriel olhou entre os dedos da garota. Gritou.
- Por que você não faz o mesmo? – Bianca o seduziu.
Ela levantou o rosto.
Sem olhos.
Gabriel empurrou a garota para longe. Correu á sala de aula e entrou bruscamente.
- O que aconteceu? – Bianca perguntou sentada á primeira carteira junto á porta, onde se sentava geralmente.
O garoto caiu de costas no chão.
Bianca levantou-se rapidamente para ajudá-lo, mas conforme chegava perto, Gabriel parecia se agitar mais. A garota ajoelhou-se e passou a mão pelo rosto do amigo, que desmaiou.
- Gabriel?
- Chame o hospital! – a professora falou.
Ela agarrou o celular do bolso e discou o numero do hospital.
Sem muita demora, a ajuda chegou. Fora tudo muito rápido e corrido. Bianca entrara na ambulância junto ao Gabriel e ficou ao seu lado.
Em poucos minutos já estavam no hospital. Ela nem conseguia enxergar nada, tudo se tornara manchas á sua volta enquanto ela corria pelos imensos corredores acompanhando a equipe que estava carregando seu amigo.
Logo depois o colocaram em uma das salas, Bianca tentou entrar, mas um dos médicos a barrou.
- Você não pode entrar querida... Fique na sala de espera.
Ela concordou com a cabeça e voltou para trás, até a sala de espera, onde estavam três mulheres e dois homens, sentados, um tanto distantes uns dos outros. A garota se sentou em uma das cadeiras.
Pegou novamente o celular e discou o número de sua mãe.
Chamou por um tempo. Alguém atendeu.
- Alô? – disse a mulher do outro lado da linha.
- Mãe?
- O que aconteceu Bianca? Você está bem? – ela perguntou.
- Eu estou... – os olhos da garota se encheram de lágrimas... – Mas o Gabriel não... Ele desmaiou na sala de aula e até agora não acordou.
- Ai meu Deus... Me espere aí que já vou indo...
Bianca tomou ar para que falasse mais alguma coisa, mas sua mãe desligara antes.
Ela ficou sentada, agitada, esperando.
Meia hora passara e nenhuma notícia. Duas das mulheres na sala de espera já haviam ido embora após uma breve conversa com um médico careca, que lhes cochichou algo ao ouvido antes de desaparecer pelos corredores daquele lugar.
Dez minutos depois, o médico apareceu novamente e conversou com um dos homens, que o seguiu, deixando a sala de espera.
Não demorou muito, outro medico apareceu, o mesmo que lhe barrara quando ela tentou entrar na sala de Gabriel.
- Você está com o garoto que desmaiou? – ele perguntou sério.
Bianca ficou de pé e andou até o homem.
- Sou sim... – a garota respondeu.
- Ele é o que seu?
- Irmão.
- Então, melhor você se sentar novamente. – o médico disse, com seu tom de voz bem grosso.
Ela se sentou na cadeira mais próxima que lá havia.
- Seu irmão... Ele... Ele entrou em coma.
Bianca levou as duas mãos á boca e começou a chorar.
- E os olhos dele serão retirados, pois estão com pressão e se não retirarmos, algo muito ruim pode acontecer.
- Isso... Isso quer dizer que... Que ele ficará... – a garota conseguiu choramingar em meio aos soluços.
O médico a abraçou, como consolo.

Bianca não conseguia mais parar de chorar, debruçada sobre a cama onde Gabriel permanecia imóvel, com os olhos enfaixados. Ela apertava as mãos do irmão e de vez em quando secava os olhos com as mãos.
De repente sua mãe entra no quarto todo branco, carregando um copo de água.
- Você tem certeza que quer passar a noite aqui depois de tudo que aconteceu? – ela perguntou, entregando o copo para a garota.
Bianca bebericou a água e a deixou em cima de uma mesinha branca ao seu lado.
- Tenho sim mãe... – respondeu.
- Tudo bem então. Qualquer coisinha ligue hein! – Gloria falou séria.
- Tá mãe.
A mulher saiu do quarto e fechou a porta.
Continuava pensativa, sentada ao lado do irmão enquanto segurava sua mão e cantarolava algumas musicas que passavam por sua cabeça. A cada pouco bebia um pequeno gole do copo de água que sua mãe lhe deixara.
A garota começou a adormecer á medida que suas lágrimas começaram a secar, fazendo seus olhos coçarem.
Virou o ultimo gole do copo e levantou-se para ir até a sala de espera enche-lo.
Havia um enorme corredor silencioso, por onde seus passos ecoavam conforme ela andava. O hospital estava muito calmo, a não ser por algumas poucas pessoas na sala de espera, todas sem fazer som algum, cabisbaixas.
Bianca encheu o copo no bebedouro ao lado do balcão de recepção e logo depois começou seu caminho de volta ao quarto onde se encontrava seu irmão.
Deixou o copo novamente na mesinha e ficou junto a Gabriel por um tempo.
Baque.
A garota se assustou. O barulho vinha da parede logo atrás de onde estava sentada.
Levantou-se e foi até a parede, onde vagarosamente encostou seu ouvido.
Baque.
Bianca se assustou novamente. Deu um passo para trás. Ficou atenta, esperando.
Baque.
Saiu do quarto o mais depressa que pôde. O que era aquele barulho? Iria até a recepcionista reclamar.
Seus passos ecoavam pelo longo corredor. Sentiu uma mão tocando em suas costas. Virou-se. Gritou.
Seu irmão, de pé, sem a faixa cobrindo o buraco de seus olhos. Ele gemia. Parecia estar com dor. Sua pele estava toda azulada e suas veias estavam muito mais visíveis.
A garota começou a correr até a recepção. Passou pela sala de espera e foi direto ao balcão, que estava vazio. Ouviu outros gemidos em uma bizarra sinfonia. Olhou para cima e logo depois, deu outro grito.
Estavam todos do mesmo modo que Gabriel. No teto. De ponta cabeça. Todos fitando Bianca.

Baque.
Bernardo tentava dormir, mas não se esquecia do barulho que ouvira na sala de aula.
Ele havia acabado de se mudar para a cidade, ficara a semana escolhendo uma casa perto daquela escola que, segundo ouvira falar era uma das melhores da cidade. Encontrara uma não muito perto, mas também não era longe. Morava com a mãe, Cristina.
Baque.
Puxou o cobertor até o nariz. Estava assombrado com aquele barulho.
Baque.
Assustou-se. Já não era mais um barulho de sua memória, vinha da parede onde a cama recostava sua cabeceira.
Baque.
O garoto se levantou em um pulo e saiu do quarto, indo até a cozinha. Parou.
Bernardo pegou um copo e uma jarra cheia de água da geladeira, colocou os objetos em cima da mesa e levou as mãos aos olhos, para coçá-los.
Após beber água, foi até a sala, onde se deitou em um sofá e continuou acordado. Mesmo sentindo coceira ele estava quieto, sonolento.
Fechou os olhos.
Sentiu seus olhos serem coçados, cada vez com mais e mais força.
Abriu os olhos novamente. Não havia ninguém na sala.
Adormeceu não muito tempo depois.
Assim que amanheceu o dia, o garoto fora acordado por sua mãe.
- Bernardo? O que você está fazendo na sala?
Seus olhos abriram lentamente.
- Eu... Ouvi um barulho estranho no quarto, mãe. Não queria mais dormir lá. – admitiu.
Cristina fez um sinal negativo com a cabeça enquanto ia até a cozinha dizendo:
- Se apronte, já está na hora de ir para a escola.
Ele saiu do sofá, espreguiçou-se e voltou para o quarto colocar o uniforme escolar. Tomou café e saiu.
Andou um quarteirão para chegar até onde o ônibus escolar o apanharia. Esperou.
Após alguns minutos, Ariel e Joyce apareceram no ponto, ambas pareciam distraídas, pois nem o ouviram dizer olá enquanto passavam reto o ponto de ônibus.
- Oi?
Sem resposta, continuavam andando.
- Garotas? Está tudo bem?
Ariel piscou várias vezes rapidamente antes de olhar para ele.
- Oi. – ela falou, desanimada.
- Por que vocês vieram ao ponto hoje? Vocês não são as que sempre vão a pé?
- Quem lhe contou isso? – Joyce perguntou, com o tom de voz monótono.
- É que vocês são meio... Muito... Populares na escola.
Bernardo notara algo de diferente nelas, não som fisicamente, mas era de se perceber que algo de muito estranho se passava com ambas.
- Por que estão tão desanimadas? – perguntou.
Ele levou as mãos ao rosto e coçou os olhos. Ariel pareceu espantar-se com aquele gesto. As duas garotas se entreolharam até que Joyce falou:
- Ele entrou na casa.
- Que casa? – o garoto perguntou confuso.
- Ouça bem... – Ariel começou.
- Do que vocês estão falando? – Bernardo a interrompeu.
- Apenas ouça! – a garota continuou. – Não vá para a escola, não fale com ninguém. Apenas se trance em seu quarto e fique esperando por eles.
Ele coçou os olhos novamente.
- Mas... Aonde vocês vão, já que estão aqui no ponto? Por que não se trancam vocês em seus quartos?
- Nós não vamos á escola, aqui é apenas caminho para a biblioteca municipal. – Joyce falou.
- E o que vocês vão fazer lá? – Bernardo perguntou.
Ariel suspirou enquanto falava:
- Nem queira saber...
O garoto continuava confuso.
- De que casa vocês estão falando? – questionou.
- Aquela casa abandonada. Aquela casa, com um jardim apodrecido e um cheiro horrível de morte! Aquela que qualquer um chega à cidade vai ver para comprar por causa do preço baixíssimo! – Ariel gritou.
- E como vocês sabem que eu vi essa casa?
- Não importa! – A garota terminou.
- Então vocês sabem o porquê do preço baixo?
Joyce olhou para trás de Bernardo e pareceu chocar-se. Voltou a andar quase que puxando a amiga pelos braços, mas Ariel insistia em ficar até dizer o que tinha de contar para o garoto.
- Casas onde todos os donos foram mortos costumam ter preço baixo. Mas o preço é muito mais alto que o imaginável.
Ela também olhou para trás dele e começou a andar pelo sentido contrário, parecendo estar chocada, assim como Joyce. Em pouco tempo as duas largaram os cadernos que levavam nas mãos e saíram correndo pela rua, olhando por cima dos ombros.
- O que ela quis dizer com isso? – Bernardo se perguntou.
Ele olhou para trás, onde as duas garotas fitavam espantadas. Gritou. Um arrepio gélido atravessou suas costas e barriga.
Lá estava sua casa, era possível ver o interior da sala pela janela, e dentro dele, várias pessoas.
Cabisbaixas. Pele azulada.
O garoto caiu sentando no chão, fechou os olhos. Sentiu duas mãos que o coçavam. Abriu os olhos. As mãos continuavam coçando-os violentamente.

Joyce abraçou Ariel fortemente. Lágrimas escorriam de seus olhos.
- Nós... Nós estamos perdidas. – choramingou.
- Não! Não! Deve haver alguma solução! – Ariel falou, tentando animar a amiga. – Eu vou checar tudo que puder no computador, já que no sistema de pesquisa da biblioteca não vai dar.
Joyce acenou e voltou a deitar na cama. Estava suando, com olheiras e face triste, com medo.
- Por quê? – se perguntou, em voz alta.
Ariel também não conseguira entender direito o que estava se passando e como o grupo de Aline também desaparecera, uma vez, que para elas, era incerto o fato do grupo ter entrado na casa.
Pesquisou por pouco tempo. Logo, gritou para a amiga, quase alegremente:
- Joyce! Encontrei algo!
A garota levantou-se para olhar o que a amiga encontrara na internet.
- Veja isso! É um artigo muito antigo sobre a casa. – Ariel disse, em tom de comemoração.
Joyce levantou-se da cama para ler.
- Onde você encontrou isso? – a garota perguntou.
- Em um site amador sobre mortes bizarras. Nem sei por que pensei em pesquisar nele, mas já li vários arquivos que escreveram. – Ariel respondeu.
Joyce começou a ler em voz alta a partir do terceiro parágrafo:

Levantou-se e saiu correndo. O artigo lhe dissera onde encontrar a amiga desaparecida.
- Joyce! Não!
A garota não ouviu as suplicas de Ariel, correu pela rua nublada, rapidamente, até chegar à casa.
A casa. Lá estava, medonhamente colocada no meio de um jardim morto.
Entrou.
A porta fez um estranho rugido de ferrugem ao ser aberta. Foi diretamente á parede da sala, onde deu uma batidinha de leve com as mãos. Nada aconteceu. Olhou para a cadeira.
- Alice sua vagabunda! Não temos nada a ver com o que seu marido e você fizeram ou deixaram de fazer! Por que fazer isso com a gente? – seu desabafo de raiva tornou-se um choro triste de medo. – Você arruinou com a minha vida! Por que não me mata agora?
Agarrou a cadeira de balanço e, com toda sua força, a quebrou na parede. Gritou de raiva. Continuou batendo na parede com os punhos fechados até que os tijolos começaram a sucumbir e um buraco abriu-se. Tremendo, Joyce começou a tirar os tijolos até sentir algo macio dentro da parede.
Era o braço de Jéssica.
- Eu sabia! – chorou. – Eu sabia!
O braço se mexeu.
Baque.
Joyce afastou-se. Gritou.
Baque.
Voltou para junto da parede e tirou um pouco mais de tijolos até que o corpo da amiga caísse sobre seus braços. Ajoelhou-se e recostou a cabeça de Jéssica em seu colo. Começou a afastar os cabelos que cobriam o rosto dela. Gritou.
Sem olhos. Boca amarrada.
Não conseguia respirar direito. Puxava o ar pela sua boca com muita dificuldade.
Jéssica começou a se mover.
Joyce afastou-se. A amiga se levantou e começou a andar em sua direção. Escorria sangue de sua face. Joyce continuava a se arrastar para longe, tentava ir até a porta.
Jéssica continuava se aproximando. A garota conseguiu se levantar e saiu correndo para fora da casa. Parou em frente á saída. Caiu no chão. Havia várias pessoas na porta. Todas como Jéssica, com a pele azulada, veia ressaltadas e a maioria com os rostos escondidos pelos cabelos.
Gritou.

Ariel saiu atrás da amiga. Com certeza estava indo para aquela casa, onde ambas esperavam encontrar o corpo de Jéssica. A garota estava com muito medo.
Corria sem parar, e já com a respiração ofegante, chegara até a casa.
O portão e a porta estavam escancarados. Joyce já entrara.
- Joyce? Você está bem? – gritou lá de fora.
Nenhum som.
Ariel atravessou o jardim e entrou. Olhou para o fundo da sala. Havia um buraco na parede. Seus olhos começaram a coçar, mas ela tentava ignorar a irritação.
- Joyce? – a garota chamou, olhando para os lados.
Começou a andar vagarosamente até uma porta que havia lá perto. Estendeu sua mão até a maçaneta. Abriu. Era a porta que levava á cozinha, toda feita de azulejos brancos, com uma mesa redonda de vidro com quatro cadeiras de metal ao seu redor. Havia também uma geladeira, um armário branco e uma pia.
- Joyce? Pelo amor de Deus! Responde algo! – choramingou.
Baque.
Ariel assustou-se. Andou até o centro da cozinha. Seu coração estava disparado, suas pernas pareciam não suportar seu peso. Estava frio.
De repente, a garota ouviu alguém na sala:
- Podemos fazer o trabalho sobre essa casa e entregar antes que elas. Esse parece ser um assunto muito, muito melhor e menos comum que o Jack.
- Tá... Mas e como a gente vai filmar? – perguntou uma segunda voz, dessa vez feminina.
- Pegamos emprestada a câmera do Gabriel. – falou o garoto.
- E que garantia temos que ele não vai ver o vídeo? Aposto como você vai se esquecer de apagar!
- Carol! Você complica muito as coisas!
Baque.
- Você ouviu isso? – ele fala.
- Ouvi sim Thomas. É a sua consciência!
- Shhh... Ouça!
Baque.
Ariel ouve um grito e um barulho estranho. Fazia um grande esforço para que suas pernas a levassem até a sala. Atravessou a porta. Gritou.
Havia um homem, com aparência elegante, de uns trinta anos, cabelos meio grisalhos, sentado no sofá. Em seu colo, havia uma menina, loira, olhos azuis, de aparentemente cinco anos, a qual ele despia a calça brutalmente.
De repente, a garota ouviu uma estranha voz feminina:
- Mas o que... Mas o que é isso?!
O homem pareceu assustar-se. Olhou para os olhos de Ariel de forma penetrante, com um olhar estranhamente triste.
- Não! Não é nada disso!
- É agora que delato você á polícia!
- Não! Você não pode fazer isso! Você é minha mulher! – disse, levantando-se do sofá e atirando a criança chorosa para a parede.
- Isso está longe demais! Você não pode sair imune dessa! – a voz feminina chorou.
Ele começou a as aproximar de Ariel. Seu coração disparou. A garota abriu a boca para tentar gritar, mas nenhum som saia. Não conseguia se mover. Caiu no chão, encostou suas costas na porta. Continuava se aproximando. Fechou os olhos.

- Em um site amador sobre mortes bizarras. Nem sei por que pensei em pesquisar nele, mas já li vários arquivos que escreveram. – Ariel respondeu.
Joyce começou a ler em voz alta a partir do terceiro parágrafo:
- Seu primeiro assassinato, o menos sobrenatural de todos eles, ocorreu por causa de um casal, aparentemente feliz, que na verdade, guardavam dentro de si, um ódio extremo. Ele a assassinou, segundo as digitais na arma do crime e no sangue dos cadáveres, e logo depois de amarrar sua boca e retirar seus dois olhos, enterrou-a, de modo muito estranho, dentro da parede da sala, onde, segundo nossas fontes mais seguras, ela o flagrara em um ato de pedofilia.
As duas garotas entraram em choque. Joyce tampou a boca com as duas mãos e após sua respiração se acalmar. Continuou lendo.
- Sob ameaça de ser delatado á polícia, enfurecido, ele a assassinou. A criança morreu, tempos depois, de asma, qual adquirira após a desventura. Segundo o jornal local, seria Guilherme o nome do assassino, mas apenas nós, do histórias sobrenaturais.com, sabemos que este, é um nome fictício.
As duas permaneceram assustadas por certo tempo até Ariel completar a leitura:
- O assassino fora encontrado dentro da casa, morto por uma estranha parada cardíaca, ainda não explicada pelos médicos.

Colocou a mão sobre o bolso. Sentiu um pedaço de papel e o retirou de lá. Abriu os olhos.
Era a foto da velhinha, sentada em uma cadeira de balanço que aparentava ser tão idosa quanto ela pela cor descascada da madeira. Atrás dela havia uma mesinha com um vaso de flores, e atrás dessa mesinha havia um vulto branco, com o formato de um rosto, que olhava para a senhora de idade. Era a menina. O vulto tinha o rosto daquela criança.
Olhou novamente para frente. O homem continuava a andar em sua direção. Atrás dele havia várias pessoas, todas de aspecto cadavérico, entre elas estavam a mulher da loja, suas amigas, o grupo de Thomas e uma criança. Todos com o olhar baixo, a pele azulada e ensangüentada, cabelo escondendo o olhar, veias ressaltadas.
Voltou seu olhar para o homem, que continuou andando em sua direção, olhando em seus olhos enquanto dizia.
- Você não pode ter me visto aqui sem seus olhos, não pode contar para a polícia com sua boca amarrada e nem sairá dessa casa. Ficará aqui para sempre!


Bom... espero que tenham curtido... caso alguém leia as baboseiras que escrevo nesse blog... huahuahuahua